Cerimônia do Prêmio da Música Brasileira vai homenagear Maria Bethânia

Tributo no Teatro Municipal do Rio terá apresentações de seis cantoras, entre elas, Nana Caymmi, Alcione e Zélia Duncan

PUBLICIDADE

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Nana Caymmi é amiga desde os anos 1960. Alcione recebeu de suas mãos o primeiro disco de ouro, em 1975. Adriana Calcanhotto a tem como “bússola”. Mônica Salmaso, como uma pesquisadora fundamental para a música brasileira. Mariene de Castro a considera uma madrinha. Já Zélia Duncan a visualiza num olimpo. Maria Bethânia será homenageada pelas seis cantoras na cerimônia de entrega do Prêmio da Música Brasileira, nesta quarta, 10, no Teatro Municipal do Rio. De gerações e estilos distintos, cada uma delas cantará uma faceta de Bethânia.

A cantora Maria Bethânia na Villa Riso em São Conrado, no Rio Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

Dizendo-se feliz por vê-la glorificada em vida, Nana, acompanhada do irmão Dori, voltará ao início da carreira da baiana, com Pra Dizer Adeus (Edu Lobo-Torquato Neto), do disco Edu e Bethânia (1967). “Fiquei deslumbrada quando ouvi pela primeira vez. Bethânia sempre esteve na vanguarda”, disse Nana, sobre a ligação iniciada em 1966, quando venceu o Festival da TV Globo, com Saveiros (Dori/Nelson Motta). “As famílias eram muito amigas. Tenho muita admiração pelo gosto dela. Hoje, só nos vemos a trabalho: eu fico no camarim dela tomando uísque, dando risada e atrapalhando.”

A cantoraNana Caymmi no Humaitá, no Rio Foto: MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO

PUBLICIDADE

Para Alcione, o criador do PMB e seu diretor-geral, José Maurício Machline, escolheu Negue (Enzo de Almeida Passos-Adelino Moreira), canção dramática, clássico do repertório de Nelson Gonçalves, gravada por Bethânia em Álibi (1978). A cantora maranhense se orgulha de ter apresentado a tradição dos cantadores de sua terra para Bethânia, como o bumba meu boi de Humberto de Maracanã. Ela marcou a carreira de Alcione por lhe ter entregue a primeira láurea de uma série. 

“Éramos da mesma gravadora e ela me deu o disco de ouro. No Álibi, me convidou para cantar com ela O Meu Amor (Chico Buarque). Depois a levei ao Maranhão para ser homenageada e por ter gravado João do Vale (maranhense que compôs, com José Cândido, Carcará, primeiro sucesso de Bethânia). A gente aprende muito com Bethânia. Ela é muito reta na trajetória artística”, afirmou Alcione, que recentemente endossou a escolha da sua escola de samba, a Mangueira, de ter a intérprete como enredo para o carnaval de 2016 (em 1994, a escola fez desfile sobre os Doces Bárbaros).

Nascida 19 anos depois de Bethânia, Adriana Calcanhotto foi apresentada à sua voz por uma tia, professora de língua portuguesa, que apreciava os poemas e textos inseridos nos espetáculos. “Tia Istellita me inoculou. B<CW4>ethânia é a bússola, para além de cumprir o papel de rainha”, enalteceu a compositora gaúcha, já gravada pela baiana. “Não conseguia acreditar que aquela voz, que mudou meu mundo, estava dizendo palavras escritas por mim. Ouvia de novo e de novo, para me convencer.” No PMB, Adriana interpretará Âmbar, composição sua que virou título do disco de Bethânia de 1996. “Fiz para ela, nunca cantei, nunca gravei, é toda dela. A sensação que tenho é que vou interpretar uma canção de Maria Bethânia.”

O universo interiorano do cancioneiro registrado pela homenageada ficou com Mônica Salmaso, a quem couberam canções do CD Brasileirinho (2003). “É o meu favorito, me interessou muito pela densidade e a qualidade do mapeamento musical que faz.” Ligada ao candomblé, a soteropolitana Mariene de Castro, que foi casada com o compositor e produtor J. Velloso, sobrinho de Bethânia, exaltará orixás femininos já cantados por ela. Paiol de Ouro (Alexandre Leão/Olival Mattos) foi a primeira música que cantei em meu primeiro show. Bethânia está na minha carreira desde o início.”

Roteirista do PMB, Zélia Duncan apresentará versão de Rosa dos Ventos (Chico Buarque), de 1971, música emblemática da trajetória de Bethânia por marcar o início da parceria com o diretor Fauzi Arap. “Esse show mudou a forma de se fazer show no Brasil. É impossível cantar essa música sem ouvir a voz dela na minha cabeça. Vira quase um dueto”, disse Zélia. “Eu era pré-adolescente e ganhei (o disco ao vivo) Chico Buarque e Maria Bethânia (1975). Vivia cantando pela casa com sotaque baiano.”

Publicidade

O tributo desta noite terá também participações masculinas: de Caetano Veloso, Arnaldo Antunes, Chico César, Lenine, Johnny Hooker e Roque Ferreira. Caetano cantará a primeira composição sua gravada pela irmã, De Manhã (lado B do compacto de 1965 que tinha Carcará) e falará da relação deles na juventude. Chico Buarque não aceitou o convite para participar.

A teatralidade de Bethânia será lembrada por atores, como Renata Sorrah e Matheus Nachtergaele, que lerão textos recitados em seus shows. A cantora estará no palco duas vezes, na abertura e ao fim da cerimônia.  O PMB privilegia autores nas homenagens, mas outros intérpretes já foram celebrados, como Maysa, Elis Regina e Jair Rodrigues, entre outros. O mais abrangente do País, com 106 indicados em categorias que se estendem da música clássica ao pop, o prêmio está na 26.ª edição. Os campeões de indicações da noite são Mônica Salmaso, com quatro, seguida de Fernanda Takai, Ney Matogrosso, Gilberto Gil, Hamilton de Holanda e o grupo baiano Ganhadeiras de Itapuã, com três. 

ALGUNS INDICADOS:

CançãoAno Bom, de Arrigo Barnabé e Luiz Tatit Alguma voz, de Dori Caymmi e Paulo César PinheiroSedutora, de Guinga e Paulo César PinheiroÁlbum canção popularAbstraia, Baby, de Luciano Salvador BahiaMatéria Estelar, de Rhaissa BittarNa medida do impossível, de Fernanda Takai

Cantor Johnny Hooker (Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito!) José Augusto (Quantas luas) Luiz Caldas (Além da porta)

Cantora Carla Gomes Fernanda Takai  Roberta Miranda

MPB - ÁlbumGilbertos sambas, Gilberto Gil Corpo de baile, Mônica SalmasoValencianas, Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.