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Caetano Veloso, Cid Campos, Péricles Cavalcanti e outros fazem homenagem a Augusto de Campos

Espetáculo Sompoesia será realizado no sábado, 30, e domingo, 31, no Sesc Pompeia

Por Pedro Antunes
Atualização:

"Cabe (em (não (cor (meu) ação) cabe) minha) ça”.

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Na obra do poeta concreto, tradutor e escritor Augusto de Campos, nessa brincadeira com parênteses e palavras às vezes pela metade, está uma de suas mais singelas criações – e das mais pop. “Meu coração não cabe em minha cabeça”, diz a obra – ou, para os mais racionais e menos emocionais, “minha cabeça não cabe em meu coração”. Com a arte de dizer muito em poucas linhas, usando-se de artifícios visuais e repetições, Augusto é grande nome da literatura do País. Suas obras reverberam na música há, pelo menos, quatro décadas, basta lembrar da influência que os poemas concretos dele tiveram no movimento cultural conhecido como Tropicália.

Aos 85 anos, sendo 65 de carreira, o poeta é homenageado pelo Sesc Pompeia com a maior mostra sobre sua obra já reunida. Chamada REVER, a exposição chega ao fim neste domingo, 31, mas não antes sem se esparramar pela música mais uma vez. Sábado, 30, e domingo, o teatro da unidade receberá Augusto e um punhado de convidados estrelares para performances nas quais o som e a poesia se unem em algo único – ou quando o texto extrapola a própria dimensão escrita.

Cid Campos, Caetano Veloso e Augusto de Campos Foto: Daniel Teixeira / Estadão

Dirigido por Cid Campos, músico filho de Augusto, o espetáculo Sompoesia leva para o palco Arnaldo Antunes, Caetano Veloso, Péricles Cavalcanti e Tom Zé. “Será um show muito especial”, diz Cid. Os compositores irão interpretar suas versões para poemas de Augusto de Campos assim como parcerias entre eles. “(A ideia) é mostrar um olhar diferenciado sobre a poesia de Augusto. Textos deles que já são belíssimos, mas é interessante perceber o que acontece com eles quando passam pelo olhar dos músicos.”

A reunião no teatro é curiosa, porque foi ali que, em 1983, Augusto e alguns desses nomes se reuniram para o programa Fábrica do Som, da TV Cultura. “Será emocionante voltar lá”, diz Péricles Cavalcanti, um dos presentes naquela noite há 33 anos. Ali, ele executou Nuvoleta, com a participação de Regina Casé. A canção, que atualmente voltou ao seu repertório e será novamente tocada por ele, foi criada a partir de uma tradução de Finnegan’s Wake, de James Joyce, feita por Augusto. “Às vezes, um texto soa como canção. Quando li esse trecho, achei que dava samba”, explica o músico. “O Augusto, por gostar muito de música popular e conhecer canções eruditas, experimentais, tem uma coloquialidade musical”, elogia Péricles, que também gravou Elegia, outra parceria com Augusto.

A música, por sua vez, será executada por Caetano Veloso, cuja interpretação da difícil Pulsar, de Augusto, foi determinante para a própria carreira dele. Caê, outro presente naquela histórica noite de 1983, foi imensamente inspirado pelas poesias concretas e dessa fonte bebeu desde os tempos de Tropicália ao lado de Gilberto Gil – como na parceria de Batmacumba, registrada no disco Tropicália ou Panis et Circensis, de 1968.

Caetano e Augusto se conheceram em um jantar em 1967. Augusto havia escrito um artigo sobre a música Boa Palavra, do músico baiano, e certa vez se encontraram para conversar em um restaurante. Augusto falou sobre Lupicínio Rodrigues, lembra Caetano. “E eu devo ter ficado tímido, quase sem falar nada”, diz o músico. “Desde esse dia, ficamos amigos. Ele foi assistir a alguma gravação do meu primeiro LP tropicalista, escreveu artigos iluminadores sobre o nosso trabalho. Passamos a nos ver com certa frequência.”

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O músico baiano acerta na mosca ao detalhar a habilidade do amigo com o som e poesia – ou sompoesia, esse neologismo que dá nome ao espetáculo e faz todo o sentido no contexto da obra de Augusto de Campos. “O que mais me impressiona é a lucidez da visão dele. Desde as escolhas críticas até os poemas mais minimalistas. As palavras de Augusto não precisam de música, mas são sempre aptas a tornar-se canto.”

SOMPOESIA Sesc Pompeia. R. Clélia, 93, Pompeia. Tel.: 3871-7700.  Hoje (30), às 21h, e amanhã (31), às 19h. R$ 18 a R$ 60.