Bourbon Street traz duas frentes poderosas das noites de New Orleans

Mia Borders e Walter Wolfman Washington mostram o funk e o soul que o Sul dos EUA produz de mais relevante

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Por Julio Maria
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O Bourbon Festival teve, nesta quarta-feira, 20, em São Paulo, uma noite de Bourbon Street, a inacreditável rua noturna de New Orleans, uma das maiores concentrações de casas com música ao vivo do planeta, que lhe empresta o nome. Havia no palco duas das frentes que ocupam hoje os palcos da terra prometida de Louis Armstrong, na Louisiana, sul dos Estados Unidos: a voz cortante e a guitarra decorativa da jovem Mia Borders e um tornado, de voz e guitarra, chamado Walter Wolfman Washington.

Mia Borders durante apresentação no Bourbon Festival, em São Paulo, nesta quarta-feira, 20 Foto: Alex Silva/Estadão

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Mia é uma sedutora estratégica. Abre a porta com delicadeza fazendo o soul cool Try Me On para só então iniciar uma escalada sem pressa, degrau por degrau, ganhando impulso ao passar por Walk on By e Let's Get it On. Sem os metais nem a entrega devastadora de Marvin Gaye, Let's Get It On é uma canção pop que funciona em qualquer repertório menos por aquilo que se vê no palco e mais por aquilo que as memórias afetivas desencadeiam. É um torpedo que jamais será melhorado, mas que continuará sendo um torpedo.

Quando os motores de Mia e seu quarteto esquentam, seu recado começa a ser dado. Ela não sola uma nota, mas parece se sentir à vontade empunhando uma Fender vermelha para grovear, deixando seu guitarrista mais à vontade em temas como Mama Told Me e Use Me. Ao final vem a doce My Darling Love, e Mia se despede. Palcos maiores seriam exagerados para ela. Seus maiores shows devem ser feitos nos espaços mais aconchegantes.

Walter Wolfman Washington durante apresentação no Bourbon Festival, em São Paulo, nesta quarta-feira, 20 Foto: Alex Silva/Estadão

Walter Wolfman Washington é o que se pode chamar de uma lenda nas ruas de New Orleans. O último festival da cidade, realizado neste ano, contou com dois shows lotados do guitarrista. E uma de suas apresentações disputadas na DBA, da Frenchman Street, virou um disco gravado ao vivo que o Bourbon vendia a R$ 40. Como Mia, ele também libertou-se do blues puro para fazer funk, soul e R&B. Canta sobre harmonias que lembram Al Green e faz caminhos melódicos com a voz como Otis Redding. Tem a seu lado um saxofonista e um trompetista, um baixista veterano e um baterista. Como acontece nas noites de New Orleans, seus shows são para seguir o instinto e dançar muito. Chance que a ruidosa plateia do Bourbon perdeu.

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