Biografia e discos marcam a celebração dos 40 anos do ABBA

Em 1974, 'Waterloo' vence o festival Eurovision e sagra a banda

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Por Adriana Del Ré
Atualização:

ABBA não existe mais como banda há três décadas. Isso, no entanto, não impede em nada sua sobrevida. Dancing Queen ainda está longe de passar incólume nas pistas. O musical Mamma Mia!, baseado nos hits do grupo sueco, estreou em Londres, em 1999 - onde está em cartaz até hoje -, e teve remontagens mundo afora, incluindo São Paulo (por aqui, a versão em português foi apresentada em 2010). 

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Os números desse musical reforçam a ideia de sucesso póstumo da banda: no total, mais de 50 milhões de pessoas já assistiram ao espetáculo ao longo desses 15 anos. E onde quer que seja montado, Mamma Mia! segue padrões de procedimento exigidos pelos “chefes” Benny Andersson e Björn Ulvaeus, compositores e fundadores do ABBA.

Em 2008, a fórmula do musical extrapolou os palcos e ganhou as telas. Com um elenco afiado, encabeçado por Meryl Streep, Mamma Mia!, o filme, arrecadou mais de US$ 600 milhões, mas representou mais do que cifras. Junto com o musical, ajudou a fazer a manutenção do público da banda, chegando a plateias mais jovens. 

O quarteto. Legado da banda amplifica seu sucesso por outras gerações Foto: Divulgação

 

Ainda no quesito ‘perpetuando o sucesso entre outras geração’, vale lembrar que Madonna usou os acordes de Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight), do ABBA, em Hung Up, de seu álbum Confessions on a Dance Floor, de 2005. Foi um feito a cantora conseguir a autorização de Andersson e Ulvaeus, que são rígidos com sua obra - por isso o auê na época em torno da conquista. 

Para o escritor brasileiro Daniel Couri, que, em 2011, lançou a biografia da banda, Mamma Mia!, pela Panda Books, a repercussão que o grupo consegue até os dias de hoje se deve à simplicidade de suas músicas, “apesar dos arranjos sofisticados e complexos”. “É fácil se ‘viciar’ nelas. A harmonia das vozes é impecável. As melodias e refrões são extremamente cativantes”, analisa. “Eles não tinham pretensões de fazer letras de protesto ou mesmo canções que se enquadrassem nos modismos da época.”

Formado no início dos anos 70, o grupo só alçou fama internacional em 1974, quando a canção Waterloo ficou em primeiro lugar no concurso musical do popular programa de TV Eurovision Song Contest. Para lembrar esses 40 anos, o pacote comemorativo de lançamentos inclui Abba - A Biografia, de Carl Magnus Palm, e a coletânea ABBA Gold: Greatest Hits 40th Anniversary Edition, reunindo três discos (dois de hits e um com lados B da banda).

Quarteto só se reúne em ocasiões especiais, como na première do filme 'Mamma Mia!', em Estocolmo Foto: Divulgação

 

Era janeiro de 1974 e faltava muito pouco para o fim das inscrições para o Melodifestivalen, concurso de música sueco que servia como porta de entrada para o festival de TV Eurovision. Nos dois anos anteriores, eles haviam chegado perto de ganhar o Eurovision, mas terceiro lugar não tem o mesmo peso do pódio mais alto. Àquela altura, o quarteto não se chamava mais Björn & Benny, Agnetha & Frida. Já batizada como ABBA, uma combinação das iniciais dos nomes deles, a banda precisava da música certa para ter chances reais. A balada dramática Hasta Mañana lembrava muito os últimos vencedores do festival, mas, por sugestão do empresário Stig Anderson, decidiram ousar com Waterloo

Venceram a fase eliminatória, conquistaram, logo em seguida, os países nórdicos com o disco Waterloo, mas queriam ir mais longe. E, para isso, foram a Brighton, na Inglaterra, em abril, para participar da final da Eurovision. Contrariando todas as expectativas e favoritismos, a banda ficou em primeiro lugar. E ali o ABBA nascia para o mundo. “Aquele foi definitivamente um marco. No início dos anos 1970, ninguém fora da Escandinávia estava interessado em música pop sueca. Era difícil para o ABBA e seu empresário serem levados a sério pelo mundo dos negócios da música internacional”, diz o biógrafo sueco Carl Magnus Palm. 

“É por isso que eles participaram do festival: sua teoria era que, se tivessem uma canção e uma performance que fossem fortes o suficiente, poderiam chegar a centenas de milhões de telespectadores que assistissem à competição e, ao fazê-lo, sua canção se tornaria um sucesso - não importa que eles fossem da Suécia. Eles estavam certos, porque a vitória com Waterloo lhes deu sucesso internacional”, continua. 

A banda sueca Abba Foto: Divulgação

Neste 2014, em que se comemoram os exatos 40 anos de vitória da banda na emblemática competição, foi lançado no Brasil o livro ABBA - A Biografia, de autoria de Palm. Há 15 anos escrevendo sobre o grupo, o escritor recupera a trajetória dos integrantes, com o material que acumulou nesses anos de pesquisa - incluindo entrevistas que fez com o quarteto ao longo desse tempo. Ele acompanha a história de Benny Andersson, Anni-Frid Lyngstad, Björn Ulvaeus e Agnetha Fältskog desde as respectivas formações na música, passando pela fama, casamentos de Frida/Andersson e Agnetha/Björn, desentendimentos, o divórcio dos casais. Mesmo com as separações, os quatro continuaram juntos como grupo, mas cada vez mais se distanciavam entre si. 

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Há quem considere os divórcios como os grandes responsáveis pelo fim da banda, em 1982. Palm diz que as separações contribuíram, em algum nível, para o desfecho, mas não foram o principal motivo. “Principalmente, Björn e Benny se cansaram de fazer apenas canções pop. Eles haviam sonhado por muitos anos fazer um musical.” 

Todos seguiram suas vidas - e carreiras. Mas, desde o começo, assustada com o assédio causado pela fama, Agnetha se isolou. Suas aparições públicas sobre projetos do ABBA sempre foram uma dúvida para público, mídia - e para os próprios ex-colegas de banda. Palm descreve, no início do livro, um flagrante de um desses raros momentos. Em 2005, o musical Mamma Mia! faria sua estreia em Estocolmo. No local, fãs enlouquecidos para vê-los de perto e, com sorte, conseguir autógrafos. Seria a primeira vez em 19 anos que os quatro integrantes da banda apareceriam juntos em público. Björn, Benny e Frida chegaram primeiro. Até que um carro parou na frente do teatro e dele desceu Agnetha. Acompanhada de seguranças, ela recebeu atenção especial pela produção por causa de sua fobia da euforia exagerada dos fãs. Mesmo desconfortável com a situação, ela permaneceu no lugar, de forma reservada. Repetiria a aparição em outras ocasiões especiais, como a première do filme Mamma Mia!, em 2008. 

Waterloo

 

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