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Banda Inky soa mais orgânica e pulsante em novo disco; ouça 'Animania'

Segundo álbum do grupo paulistano chega às outras plataformas de streaming no dia 26 - a versão física sai em outubro

Por Pedro Antunes
Atualização:

Era uma noite fria, mesmo que a primavera estivesse chegando ao fim para receber o verão. O vento gélido trazido pelo Rio Tejo era responsável pela temperaturas baixas na zona portuária de Lisboa. Dentro de uma pequena casa de shows, debaixo de uma viaduto, a banda brasileira Inky esmurrava seus instrumentos. Havia alguns poucos curiosos e fãs de música que não integravam a trupe brasileira que acompanhavam a banda naquela turnê ibérica, a primeira deles. De início, eles foram acometidos pela pancada experimental e barulhenta das canções de Primal Swag, o disco de estreia do quarteto paulista. Ao fim daquela uma hora e pouco de show, os portugueses já estavam entregues ao som que vinha do palco. Naquela noite de 27 de maio, o Inky havia conquistado mais alguns fãs. 

“Acho que isso faz parte da minha formação, fiz relações internacionais”, brinca Guilherme Silva, baixista da banda, e quem é responsável por organizar essas excursões da banda que, de dois anos para cá, graças ao bom recebimento do disco de estreia do quarteto, foi capaz de viajar aos Estados Unidos, Portugal, Espanha, Chile e Peru. Já tocaram em grandes eventos europeus, como o Primavera Sound, comumente conhecido como o melhor festival de música indie do mundo, realizado em Barcelona. Também se apresentaram em um palco montado na Praia Grande, litoral sul de São Paulo, entre atrações de música sertaneja. Para o Inky estar no palco é uma oportunidade de tornar suas canções conhecidas, sejam por uma dúzia de portugueses ou de qualquer lugar do mundo. 

Banda Inky Foto: Felipe Gabriel / Divulgação

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Animania, segundo disco da banda lançado no YouTube nesta sexta-feira, 19, ouvido pelo Estado em primeira mão, é parte importante dessa construção do grupo – o disco chega aos outros serviços de streaming em 26 de agosto e o lançamento físico é em outubro. Primal Swag era, na opinião da própria banda, um disco rígido, sem dinâmica ou molejo. A experimentação do encontro do eletrônico dos sintetizadores com o rock da guitarra e baixo era unilateral. Vinha de lá para cá. O novo disco faz o oposto. As músicas, oito no total, são tratadas como canções. Inky ganhou suingue (há metais com o auxílio da excelente banda Bixiga 70 em Devil’s Mark e quarteto de cordas na linda The Rarest Good). 

Gravado no Red Bull Station, estúdio da zona central de São Paulo, Animania nasceu com a ideia de que fosse um disco com ares psicodélicos. Guilherme, há um ano, estava vidrado por King Gizzard & The Lizard Wizard, banda australiana de psicodelia caleidoscópica. Em entrevista ao Estado, em outubro de 2015, Luiza Pereira, vocalista da banda, revelava os planos psicodélicos do segundo disco do Inky. Meses depois, na última quinta-feira, 18, ela ri daquilo. “Passamos por muitas fazes”, ela lembra. “Passamos por essa fase psicodélica, de música dos anos 1970. Mas a nossa vontade era ter um disco mais orgânico. Queríamos trabalhar melhor a dinâmica. Queríamos fugir da rigidez da música eletrônica, ter sintetizadores mais cantados, menos loopings. Buscávamos o suingue, novos ritmos brasileiros, como forró e xote.” 

Todas as canções do Inky nascem da criação coletiva. São jams na qual cada integrante traz suas referências, com Luiza nos sintetizadores, Guilherme no baixo, o recém-chegado Luccas Villela na bateria e Stephan Feitsma com a guitarra. Como músicos, os quatro nunca soaram tão bem, seguros de si, experimentando tempos e absorvendo as vivências nos palcos ao redor do mundo. Até quando o Inky soa como em Primal Swag, como na faixa In The Middle of a Rising, eles são diferentes da banda de 2014. As letras são de autoria de Luiza e de Marco Guasti, costumeiro parceiro na criação dos versos e, veja só, advogado da banda. E são nelas que o Inky mostra a maturidade que se ouve no intenso Animania. Luiza nunca cantou tão bem – e nunca escreveu tão bem. 

Animania é um apanhado de questões pessoas que a incendiavam por dentro. “Queria escrever do meu mundo em diversas formas”, ela diz. Fala-se de feminismo, com Devil’s Mark, sexo, na ótima When The Fire Burns. Fala-se até de amor, ou sobre a difícil tarefa de se escrever sobre o tema, em The Rarest Good. De psicodélico, Animania tem pouco, em pequenos flashes luminosos. O novo disco do Inky é a representação sonora da energia de palco, que se assistiu naquela noite fria em Lisboa. É vigor em estado puro – é um ciborgue: um organismo vivo, mesmo que com partes sintéticas. 

Ouça 'Animania':

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