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As novas vozes femininas da MPB

Roberta Sá, de Natal, que passou pelo Fama, a maranhense Flávia Bittencourt, a paulista Giana Viscardi, a baiana Mariene de Castro e a mineira Mariana Nunes. Ouça: Giana Viscardi - Gil e Jorge (versão rm) e (versão wma) Flávia Bittencourt - Terra de Noel (versão rm) e (versão wma) Mariana Nunes - O Negro (versão rm) e (versão wma) Mariene Castro - Ilha de Maré (versão rm) e (versão wma) Roberta Sá - Eu Sambo Mesmo (versão rm) e (versão wma)

Por Agencia Estado
Atualização:

Essas cantoras não são filhas de famosos, não têm lobby de gravadora, não gritam em trio elétrico, não apelam para o chulo, nem estão entre os inumeráveis clones de Zélia Duncan. Seu trunfo é combinar doses de talento, com repertório seletivo, contar com boas companhias, muito trabalho e um pouco de sorte. Alguns de seus CDs acabam de ser lançados, outros já estão na praça há algum tempo, o que não faz muita diferença, já que não tocam no rádio. Três delas - a maranhense Flávia Bittencourt, a potiguar Roberta Sá e a paulista Giana Viscardi - estão com shows na cidade. A mineira Mariana Nunes passou recentemente por aqui deixando boas impressões. A baiana Mariene de Castro faz ligação com o candomblé. Há as que também compõem, as que se destacam pela exuberância vocal e outras que procuram equilíbrio entre as duas funções. No álbum Sentido (independente), de Flávia Bittencourt, há uma predominância de compositores maranhenses, como Josias Sobrinho, Zeca Baleiro, César Teixeira, Chico Maranhão. Ela também compõe esporadicamente, o que não é seu forte e regravou Ex-Amor, de Martinho da Vila, e Estrela do Mar (Marino Pinto/Paulo Soledade), revela influências de música afro-latina, como a coladera do Cabo Verde e o son cubano, e conta com a participação de Renato Braz, Dominguinhos e do Quinteto em Preto e Branco (mais detalhes no site www.flaviabittencourt.com.br). Morando em São Paulo desde 2000, a cantora de 24 anos faz questão de manter o sotaque musical maranhense, tem uma voz encorpada, educada em aulas de canto erudito e popular, e não quer ser identificada com qualquer traço regionalista. "Isso não aconteceria se o Brasil tivesse vontade de se conhecer melhor. Aqui, quando falam do Maranhão, parece que é outro país", diz Flávia, que faz show nesta quinta-feira, no Blen Blen. Roberta Sá, que se apresenta nesta quinta e no sábado no Baretto, também traz na bagagem porções do Rio Grande do Norte, apesar de ter vivido 15 dos seus 24 anos no Rio. "Se eu falar que já sou carioca, o povo de Natal me mata", brinca ela, que não tem sotaque definido nem de um lugar nem de outro. Seu ótimo CD de estréia, Braseiro (MPB/Universal), dá ênfase ao samba, mas também tem coco, valsa, bossa nova. No repertório, convivem harmoniosamente Chico Buarque, Marcelo Camelo, Lula Queiroga, Paulinho da Viola, Pedro Luís, Teresa Cristina, Dorival Caymmi, Miltinho e Paulo César Pinheiro. De voz afinada, jovial e segura, Roberta é uma das grandes revelações desta década e contou com o reforço de Ney Matogrosso, Pedro Luís e A Parede e do MPB-4 no CD. Ela despontou no programa Fama em 2002 e revelou-se esbanjando suingue e brejeirice na gravação de A Vizinha do Lado (Caymmi), tema do personagem de Juliana Paes na novela Celebridade, de Gilberto Braga. Tudo aconteceu muito rápido e sem muito planejamento. "Quando fiz o teste para o Fama, era estudante de Jornalismo. Não tinha nenhuma expectativa. O samba foi uma descoberta, também não foi de propósito gravar um disco assim. Meu samba não é de raiz, posso fazer outras coisas." Roberta volta a São Paulo em julho, quando canta no Sesc Vila Mariana. Dorival Caymmi também significa muito para Giana Viscardi, que gravou Rosa Morena, única faixa antiga de seu CD de estréia, Tinge. "Acho que foi a primeira música que aprendi quando era criança", conta a cantora. Se as nordestinas vêm para o Sudeste, a paulistana também não parou na sua terra. Vive mais fazendo show no exterior do que na cidade. Na terça-feira, ela se apresenta no Itaú Cultural e no dia 20 de julho no Sesc Pompéia. Seu CD recebeu elogios na imprensa européia e só começa a repercutir melhor por aqui. Tinge tem bastante influência da música do NE, uma delas, Gil e Jorge, é um afro-pop-samba influenciado pelo cruzamento dos homenageados no título. É por interpretações como esta que já foi comparada à Gal Costa dos bons tempos. Sozinha ou com parceiros, Giana assina oito das dez faixas do disco. O segundo, que já está gravando, será mais voltado para o samba e todas as faixas são dela com o marido, Michi Ruzitschka, austríaco que conheceu quando estudava no conceituado Berklee College of Music, em Boston. Giana mudou-se para os Estados Unidos em 1998 e de lá passou cinco anos na Europa. A mineira Mariana Nunes, que também convive com o jazz e a música instrumental na família. Aos 21 anos, diz que passou completamente imune às modas da música pop. "Meu pai é muito ligado em rock e diz que fez tudo para os filhos dele não serem caretas, mas acho bom ser", brinca ela. Em dupla com o compositor Vitor Santana, ela gravou o CD Abra-Palavra, e contou com o aval da cantora Mônica Salmaso ("a maior cantora do Brasil, hoje") e do pianista André Mehmari, entre outros nomes confiáveis. Dona de voz cristalina e delicada, Mariana revela segurança impressionante para uma estreante. Ela aponta como referências "todos os grandes nomes da MPB" e começa a planejar seu salto-solo. Com Vitor, gravou canções sofisticadas, de belas harmonias, que remetem a Tom Jobim, ao Milton Nascimento do Clube da Esquina, etc. A baiana Mariene de Castro, de 29 anos, talvez seja a mais radical dessas cantoras em termos de afirmação de identidade. Acertou em cheio no repertório de seus conterrâneos Roque Ferreira, Roberto Mendes, Jota Velloso, Gerônimo e até Caetano Veloso, de quem gravou a inédita Estrelas, que ele compôs quando tinha 15 anos. Com convidados como Dona Edith do Prato, Luiz Caldas e o afoxé Filhos de Gandhi, o CD Abre Caminho (independente) tem samba-de-roda do Recôncavo Baiano, maracatu, ijexá, toada e embolada. Entre as melhores faixas, Ilha de Maré (Walmir Lima e Lupa), que nada fica a dever à gravação original de Alcione. O objeto estranho é Planeta Água (Guilherme Arantes), mas não compromete o resultado. Flávia Bittencourt. Espaço HB Club do Blen Blen (100 lugares). R. Inácio Pereira da Rocha, 520, Vila Madalena, 3817-4864. Amanhã (23), 22h30 (abertura de Tom Canhoto, 22h). Couv. art.: R$ 25 Roberta Sá. Baretto - Hotel Fasano (64 lugares). R. Vittorio Fasano, 88, Cerqueira César, 3896-4066. Amanhã (23) e sáb (25)., 21h. Couv. art.: R$ 120 Giana Viscardi. Itaú Cultural (270 lugares). Avenida Paulista, 149, 3268-1776.3.ª (28), 19h30. Gratuito (retirar ingressos com meia hora de antecedência)

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