Após série de shows, a banda Replacements pode gravar novo disco

Fruto dos anos 1980, grupo americano considerado 'a melhor pior banda do mundo' cria expectativa por novo material desde reunião em 2012

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Por Alexandre Ferraz Bazzan
Atualização:

Conor Oberst acabara de executar Another Travelin’ Song no palco ao lado e a chuva fina parecia incapaz de mandar o pessoal da velha guarda embora. Ex-desajustados se reuniam em um ruidoso bochincho tentando adivinhar como seus heróis estariam vestidos. Que músicas eles tocariam. A noite do dia 10 de maio marcaria o sexto show do The Replacements desde que eles resolveram voltar aos palcos. Então uma tempestade de encher o Cantareira desaba sobre os ombros desses ainda roqueiros já pais de família. Dez minutos se passam. Meia hora. 

Tudo indicava que a produção do festival Shaky Knees, em Atlanta, cancelaria a apresentação. Com a roupa mais discreta desde a reunião em setembro de 2013, Paul Westerberg joga uma capa de chuva amarela ao público. “Obrigado por esperar”, ele diz aos senhores de mais de 40 anos que agora parecem meninos. Mais alguns minutos de tensão. “Seu amplificador ficou molhadinho?”, pergunta Westerberg em tom de brincadeira a Tommy Stinson, baixista e único integrante original da banda além dele. Finalmente eles atacam com Takin’ a ride, do disco Sorry Ma, Forgot to take out the trash. Já na terceira música, Billie Joe Armstrong, do Green Day, sobe discretamente ao palco para, segundo os fãs mais fanáticos, cumprir sua função no emprego de verão mais legal dos EUA. As três guitarras formam uma parede de som que tenta derreter o rosto de quem ousa chegar muito perto da grade e eles estão afiados como nos melhores dias. “Eles estão mais velhos e mais sábios, não bebem tanto quanto costumavam quando eram jovens. Eles amadureceram”, explica Peter Jesperson ao Estado por telefone. 

Reunião. Westerberg e Stinson (E) em show no Texas, EUA Foto: Jack Plunkett/Invision/AP

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Jesperson é uma espécie de Brian Epstein desses não Beatles. Ele descobriu a banda quando eles eram um amontoado de garotos-problema e, de certa forma, foi responsável pelo retorno deles.

Alguns críticos afirmam que o The Replacements é a “melhor banda que nunca aconteceu”, mas é como se eles se esforçassem para não ter sucesso. Eles eram conhecidos por ser a melhor ou pior banda do mundo dependendo da noite e, quando assinaram com uma grande gravadora, fizeram de tudo para se autossabotar, seja com o não clipe de Bastards of Young ou com o mau comportamento em aparições na TV. Ironicamente, eles encerraram as atividades em 1991, mesmo ano em que bandas como Nirvana e Pearl Jam, que percorreram o caminho trilhado por Westerberg e Stinson, se tornaram tão famosas quanto Michael Jackson.

Retorno. Em 2012, Bob ‘Slim’ Dunlap, ex-guitarrista da banda, sofreu forte derrame e sua condição exigia tratamentos que a família não poderia arcar. Peter Jesperson e Tommy Stinson tiveram a ideia de chamar vários artistas para regravar canções de Slim. “Pensamos em fazer edições limitadas em vinil e leiloar na internet, mas, como Slim não é muito famoso, pensei que, com a volta do The Replacements, a possibilidade de sucesso seria maior”, diz Jesperson.

Westerberg e Stinson entraram no estúdio para gravar Busted Up de Slim, mas a velha química estava de volta e eles acabaram tocando outras três canções. “Recebi a ligação e Tommy disse que eles tinham feito quatro músicas e perguntou se eu estaria disposto a prensar um EP. Foi isso que fizemos.”

O disco de covers gerou uma série de shows finalizada em outubro, no festival Austin City Limits, no Texas, e os senhores que passaram a peregrinar pelo país para seguir os ídolos começam a se perguntar se eles vão voltar a tocar. “Tenho certeza de que eles marcarão novas datas ano que vem, talvez ainda este ano”, crava Jesperson.

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A volta aos palcos criou a expectativa de material inédito. O baterista Josh Freese postou em sua conta no Instagram recentemente uma foto de Westerberg tocando gaita e outra de Stinson empunhando um banjo, o que leva a crer que eles estão preparando algo. Jesperson, que trabalha atualmente na gravadora independente New West, diz que seria um prazer voltar a trabalhar com a banda. Resta saber se eles vão macular ou aumentar o legado construído até 1991.

Veja o Replacements tocando Alex Chilton, do álbum Pleased To Meet Me, de 1987, em uma apresentação recente na TV americana:

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