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Análise: Mistura por mistura não ganha o jogo, Aláfia tem de chegar à verdade

Menos, mesmo com tanto talento junto, será mais

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Por Julio Maria
Atualização:

O Aláfia ainda não está pronto. Há potencial e uma interessante usina ali sendo abastecida por culturas que vão dos terreiros do candomblé ao jazz, do samba ao funk, da gafieira ao charm, do rap ao soul, tudo, muitas vezes, soando como se viesse junto, ao mesmo tempo, no mesmo lugar. São camadas e camadas sobrepostas falando uma por cima da outra, com arranjos superpovoados de scraches, sopros, riffs de guitarra, percussão, groove de baixo e batera, sem citar as vozes. A busca por uma linguagem nova que venha da amálgama é, assim, sua maior virtude no plano das ideias e ainda um fracasso retumbante no resultado prático. Afinal, o que grupo quer falar?

O grupo Aláfia Foto: Sergio Castro/Estadão

Misturas por misturas não ganham o jogo. Elas se entrelaçam e viram verdade quando nem mais pensamos que estão sendo feitas, quando se casam com uma naturalidade de tal força que rompe com os próprios conceitos de gênero. O que falta ao grupo é edição e liderança, alguém que faça o trabalho sujo de dizer que, para o bem da melhor das inspirações, nem todas as ideias podem ser usadas ao mesmo tempo. Quilômetros de letra, como Teu Mar enche Meus Olhos, não fortalece o belo argumento de Allan da Rosa, mas o torna cansativo. Menos, mesmo com tanto talento junto, será mais.

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