Belchior tinha, na sua síntese artística, a capacidade de olhar. Encarar o mundo e filtrá-lo, fosse como uma figura distante, fosse como algo que lhe era próximo. Com Alucinação, o disco de 1976, ele dava sua última cartada.
Cursou filosofia e, poeta, cantor e compositor, ligou-se a outros músicos cearenses, como Fagner. Depois de vencer o Festival de Tupi, em 1971, com a música Na Hora do Almoço, lançou um compacto com a canção, mas o trabalho não aconteceu.
Elis Regina descobriu o jovem cantor e compositor e gravou Mucuripe, uma parceria dele com Fagner. Belchior lançou o primeiro disco, mas o álbum também não foi ouvido. Elis, ela novamente, cantou Como Nossos Pais e Velha Roupa Colorida, ambas de autoria dele, no show Falso Brilhante, em 1975. Belchior, enfim, teve sua chance.
Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes voltou para o estúdio, sob a tutela do produtor Marco Mazolla. Registrou as duas músicas cantadas por Elis, Como Nossos Pais e Velha Roupa Colorida, e incluiu outras compositores que viriam a se tornar clássicos, Apenas Um Rapaz Latino Americano, A Palo Seco, Fotografia 3X4, Sujeito de Sorte, Antes do Fim.
Alucinação foi um marco gravado em três dias. Belchior surgiu para o grande público, passou a fazer participações em programas de TV. Virou um pop star. A carreira, contudo, não seguiu como ele planejava. Morreu desaparecido e distante do público que, até hoje, idolatra o álbum lançado há 41 anos.