A cativante vocação lúdica de Arismar do Espírito Santo

Multi-instrumentista lança songbook e é homenageado no festival de Jericoacoara

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Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

JERICOACOARA (CE) - Com 40 anos de carreira, diversos discos e inúmeras parcerias com a nata da música brasileira popular, o multi-instrumentista Arismar do Espírito Santo acaba de lançar um songbook, prepara um caderno de música com registros de oficinas ministradas no Acre e será homenageado na noite de sábado na 6.ª edição do festival Choro Jazz Fortaleza-Jericoacoara. Ele vai tocar contrabaixo ao lado de outro ícone, João Donato, que também ganha homenagem especial pelos 80 anos de vida, e com quem tocou diversas vezes.

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Presente no palco, nas rodas de choro e forró e professor de oficinas de prática de conjunto, Arismar é uma espécie de síntese e emblema do festival. Até o tema que serve de prefixo dos shows é uma composição dele, Vestido Longo. Esteve em Jericoacoara pela primeira vez há 18 anos, quando o produtor Capucho aventou a possibilidade de realizar o bem-sucedido festival que reúne grandes instrumentistas e cantores brasileiros e estrangeiros. O evento atrai cada vez mais bons apreciadores de música, sejam visitantes ou moradores da região, onde foram criadas duas escolas de música e nota-se o crescimento de jovens aprendizes, alguns deles alunos do músico e compositor paulista.

Autodidata, Arismar cativa não só pela habilidade com que toca baixo, guitarra, violão, piano, bateria e o que mais cair em suas mãos, como pela vocação lúdica de seu método – e as ilustrações do songbook traduzem bem essa atmosfera. O músico teve o cuidado de fazer com que os temas reunidos em seu livro Song Arismar Book (Passarim Editora, 78 páginas) fossem todos manuscritos e impressos em papel fosco, para evitar reflexos que a iluminação artificial possa provocar e atrapalhar a visão de quem for tocá-los. São 15 músicas do ótimo CD Alegria nos Dedos, de 2012. Neste ano, ele também lançou outro igualmente estimulante, Roupa na Corda.

Cada composição tem uma história (com pequenos textos escritos por vários parceiros musicais dele) sobre a forma como foi feita, indicações de ritmo, com quais instrumentos e o ambiente que as inspirou. Debaixo do Cajueiro, por exemplo, foi composta em Jericoacoara, em referência direta à imensa árvore no quintal de uma pousada onde Arismar comanda suas oficinas. Outras também foram compostas em viagens e isso faz toda a diferença. “Fazer música é muito solitário. Sozinho você pensa ‘eu sou demais, toco muito bem’, já quando vai tocar em grupo, tem de negociar, aí que vem a vida. A vida nasce de tocar em grupo. Como não sei escrever música e também não leio bem, não fico na função de fazer, vou transformando, criando blocos e, quando dá resultado, todo mundo fica feliz ao acertar a ideia de fazer um som.”

Tanto com grandes músicos com quem tocou em Jeri, como Raul de Souza, Heraldo do Monte, Robertinho Silva, Toninho Horta, como com jovens aprendizes, como o tecladista e sanfoneiro Jânio Silva, é tudo “uma grande troca”. Aos 58 anos, Arismar transita com impressionante desenvoltura por diversos estilos, seja jazz, samba, choro e até rock. “Não sou dessa vertente, mas sei tocar.” Não teve essas oportunidades dos jovens de hoje e por isso dá valor a esses encontros. Diz que só depois de muito tempo foi tocar e aprender com veteranos. Em janeiro, ele lança o primeiro de uma série de cadernos de música, que vão para as livrarias e também para instituições culturais. 

O primeiro se chama Caderno Acre e foi realizado em maio, contemplado pelo prêmio Funarte de Música Brasileira de 2012, que incluiu uma oficina, um show e a criação de duas músicas inéditas. “Esse caderno nasceu de um encontro (como são os daqui) em Rio Branco. O caderno tem partituras, fotos, conversas com a moçada. Quero fazer outro daqui de Jeri também. É muito diferente de fazer música à noite no Minhocão. Quando você está num lugar desse, sua digital muda. Até no jeito de pegar o instrumento.” Uma das músicas compostas em Rio Branco tem por título Do Nato, da Nata, do Mato, da Mata, em homenagem a João Donato. Espera-se que seja tocada no show de sábado. 

Nesta edição, por aqui passaram excelentes músicos como os irmãos Eduardo e Roberto Taufic, Duo Fel e Joel Nascimento. Hoje tocam André Mehmari e Gabriele Mirabassi com seu excelente projeto Miramari, e o Ricardo Silveira Quarteto. É assim que a novidade vem dar à praia: na qualidade rara de música instrumental. Como Arismar costuma dizer: “Ê, vidão”.

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