Umberto Eco: o belo, o feio e uma obra aberta para desafiar os leitores

Aluno de Luigi Pareyson, o pensador herdou do mestre o gosto pela estética, que discutiu em seus derradeiros livros

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Por Antonio Gonçalves Filho
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Filósofo, linguista e bibliófilo, Umberto Eco começou sua carreira orientado pelo pensador italiano Luigi Pareyson (1918-1991), ativo intelectual que participou da resistência antifascista e transmitiu ao aluno lições da filosofia de Kierkegaard, mas, principalmente, o valor de estudar o belo, que viria a caracterizar a fase final dos estudos do escritor italiano. A exemplo de Pareyson, Eco estava convencido de que chegar à verdade (e ao belo) é percorrer um longo caminho por meio da interpretação. Suas ideias estéticas evoluem igualmente a partir da hermenêutica, como em Pareyson. Os primeiros trabalhos intelectuais de Eco, não por outra razão, dizem respeito à estética medieval, período que renderia assunto para o mais popular de seus livros, O Nome da Rosa.

Umberto Eco Foto: Ubiratan Brasil|Estadão

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Para Eco, a simetria era não só necessária, mas essencial. O livro, óbvio, não existe sem o leitor. Cabe, portanto, a ele mover o seu conteúdo para a frente - daí seu interesse pela semiótica, que ocupou sua vida por toda a década 1970. Mais recentemente, ele fez essa máquina se mover não exatamente por intermédio das palavras, mas por imagens, levando esse leitor a refletir sobre a beleza não como um dado absoluto, mas relativizada pelos valores culturais dos povos e pela geografia.

Eco foi criticado por certo desleixo histórico, mas todos reconhecem sua contribuição para o estudo da filosofia do belo, que, resumido de forma breve e grosseira, pode ser definido como uma projeção da imagem que o homem faz de si mesmo - na Idade Média, por exemplo, ele teria uma obsessão patológica pela luz, emulando o ambiente luminoso do paraíso celestial. No espaço de dois anos de publicação, Eco pulou do belo para a feiura, concluindo que o feio tem mais apelo erótico. E é também mais engraçado. Ao escrever sobre o tema, o filósofo admite que a feiura é também mais interessante que a beleza, pois desconhece limites. As gorduchas de Botero seriam belas ou “interessantes”? Eco, na ocasião de lançamento de História da Feiura, saiu com essa: “Pelo menos elas não são anoréxicas”. Antes, alertou que o feio de hoje pode ser o belo de amanhã. A beleza é, enfim, uma obra aberta.

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