Rogério Coelho, o premiado ilustrador das crianças

Aos 41 anos, ele acaba de receber um prêmio Jabuti pelo livro 'O Barco dos Sonhos' e de produzir 'As Gêmeas de Moscou' em parceria com Luis Fernando Verissimo

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Por Bia Reis
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Quando era pequeno, o ilustrador Rogério Coelho, de 41 anos, passava suas horas entre lápis, canetinhas, aquarelas e tintas de cores infinitas desenhando animais. Mais tarde, já alfabetizado, dividia o tempo entre ler e copiar os quadrinhos de Wall Disney, especialmente os do Mickey. Nem quando criança nem depois de ilustrar mais de cem livros e assinar a autoria de outros três, Coelho poderia imaginar que 2016 seria o seu ano. A alegria do menino que jamais pensou que poderia ganhar a vida com seus desenhos começou com o selo altamente recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) para seu livro-imagem O Barco dos Sonhos (Editora Positivo), sua segunda obra autoral.

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Veio, então, a surpreendente vitória – conforme ele próprio descreve – do Troféu HQ Mix, espécie de Oscar dos quadrinhos brasileiros, que o apontou como o melhor desenhista do País. Quando figurou como finalista em três categorias do Prêmio Jabuti, a mais prestigiosa premiação da literatura do Brasil – livro infantil e ilustração de livro infantil ou juvenil, com O Barco dos Sonhos, e ilustração, com a Graphic MSP Louco Fuga –, Coelho já se dava por satisfeito. “A surpresa foi maior que a felicidade”, confidenciou o autor, na Feira do Livro de Porto Alegre, antes do anúncio de que vencera, com O Barco dos Sonhos, a premiação na categoria ilustração de livro infantil ou juvenil. A entrega do prêmio ocorreu no fim do ano passado, no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo.

Filho de mãe professora e pai contador, Coelho nasceu em São Paulo, mas se mudou ainda pequeno para Ribeirão do Pinhal (PR). Viveu numa fazenda de café, onde o pai trabalhava, até se mudar para Curitiba, nos anos 80. “A parte da família do meu pai me deu o encantamento das coisas. A da minha mãe me deu um lado mais crítico. Era tudo muito simples, mas tive uma bagagem cultural muito boa”, lembra Coelho. Foi a mãe, que estudou artes, quem o empurrou: olhava seus desenhos e mostrava o que poderia ser melhorado. “Mas ela me deixou solto. Por isso, desenhar sempre foi algo natural para mim”, conta. Foi também a mãe quem lhe contou as histórias que marcou sua infância, como os contos de fadas e Marcelo Marmelo Martelo, de Ruth Rocha.

Os quadrinhos também foram fundamentais para o desenvolvimento artístico de Coelho e mobilizaram seu interesse pela leitura. “Ficava tentando adivinhar a história pelo desenho. E copiava muitas vezes esses desenhos. Foram os quadrinhos que me fizeram ter a vontade de ler.”

Apesar da forte relação com o desenho desde pequeno, Coelho conta que demorou para perceber que seu talento viraria trabalho. Mas sabia que, sim, desenharia por toda a vida. De 1995 a 1997, foi missionário em Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal e deixou um pouco de lado os lápis e as canetinhas, mas, quando voltou, a vontade de desenhar surgiu com força. Trabalhou como autônomo para jornais de bairro em Curitiba, fazendo ilustrações de editoriais. Mais tarde, o pai lhe mostrou um anúncio para ilustrador em uma editora, que funcionava na casa do dono, em um condomínio. Conseguiu a vaga e passou a desenvolver materiais didáticos.

Na sequência, foi trabalhar na Editora Positivo, onde entrou em 1999 como ilustrador júnior e saiu três anos depois já como profissional de primeira linha, especializado em temas escolares. Fazia o ciclo da água, escravos em uma fazenda, átomos. “Aprendi a desenhar de tudo, não tinha medo de nada. A minha maior vantagem foi que sempre consegui enxergar onde eu estava, para o que eu servia e o que poderia pegar de trabalho”, relembra Coelho.

E foram justamente as ilustrações didáticas que o colocaram na literatura. Em 2000, a Positivo procurava um ilustrador para O Que Se Vê no ABC, e o escritor Elias José gostou do traço que encontrou nos desenhos feitos para os livros destinados a estudantes. Coelho via na literatura para crianças o próximo passo de seu trabalho e sabia que para isso precisaria fazer algo diferente. Depois da estreia, outros quatro livros surgiram da parceria com Elias José. Com a nova etapa na carreira vieram também a pesquisa e a leitura da obra de autores como Claudio Martins, Helena Alexandrino e Roger Mello.

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Em 2009, Coelho fez O Gato e a Árvore (Editora Positivo), seu primeiro livro-imagem – obra sem texto, em que as imagens tecem a narrativa. O segundo foi O Barco dos Sonhos (Editora Positivo), cujo roteiro foi imaginado um pouco antes, em 2008, quando o ilustrador estava em São Francisco do Sul (SC), com a mulher e os três filhos. Levou anos, no entanto, para que o roteiro ganhasse forma e virasse livro. Nesta obra, Coelho conta a história de um velho e um menino que vivem em lugares distantes, sozinhos, e se relacionam por meio de garrafas com mensagens lançadas ao mar. Por meio dos desenhos e de duas cores – azul e sépia –, o autor dá um tom onírico à história e lança uma série de questionamentos para o leitor. A comunicação entre os dois é sonho ou realidade? Eles estão no mesmo tempo? São neto e avô ou passam a se corresponder por meio das cartas? 

Depois de O Barco dos Sonhos, veio a Graphic MSP Louco Fuga (Mauricio de Sousa Produções). E seu último lançamento, As Gêmeas de Moscou (Companhia das Letras), foi em parceria com um dos mais importantes escritores brasileiros, Luís Fernando Verisimo. Como com quase tudo na vida, Coelho se surpreendeu com o convite para ilustrar Verissimo. “Sempre imaginei que os textos dele ficassem legais se ilustrados por gente do cartoon, por causa das sacadas e do tipo de humor. Mas achei o meu lugar ali. Foi um desafio porque ele é um grande autor e essa já é uma cobrança, não dos outros, mas minha mesmo.”

Correções

Ao contrário do que o texto informava, o Jabuti foi entregue no fim do ano passado - e não na quinta-feira passada.

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