Roger Mello recebe Prêmio Hans Christian Andersen no México

Ilustrador brasiliense foi o escolhido deste ano por esta que é a mais importante premiação da literatura infantil e juvenil do mundo

PUBLICIDADE

Foto do author Maria Fernanda Rodrigues
Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

O ilustrador Roger Mello recebe na noite desta quarta-feira, 10, o Prêmio Hans Christian Andersen, o mais importante do mundo dedicado à literatura infantojuvenil. A entrega será feita na Cidade do México, durante a abertura do Congresso Ibby (International Board on Books for Young People), que reúne, entre 10 e 13 de setembro, pesquisadores e escritores de países tão diferentes quanto o Irã, a Lituânia e os Estados Unidos em debates acerca da literatura infantil e juvenil e da promoção da leitura. Um dos destaques, além de Mello, é a presença de María Teresa Andruetto, escritora argentina vencedora do Hans Christian Andersen em 2012.

Ilustrador e escritor, ele já tem mais de 100 livros publicados Foto: MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO

Roger Mello ilustrou 100 livros para diversos autores, escreveu e ilustrou outros 22 e teve algumas de suas obras publicadas em outros países. A escolha de seu nome - esta foi a terceira vez em que concorreu - foi anunciada em março, na Feira do Livro de Bolonha. Na ocasião, o júri declarou que sua obra permite "explorar a história e a cultura do Brasil sem subestimar a habilidade da criança de reconhecer e decodificar fenômenos e imagens culturais”. Entre seus livros estão Meninos do Mangue, Carvalhada de Pirenópolis e Carvoeirinhos

"Meninos do Mangue" venceu o Prêmio Jabuti em 2002 nas categorias melhor livro infantojuvenil e melhor ilustração Foto: Reprodução

PUBLICIDADE

Em seu discurso, o autor abordará sua relação com a cidade - Mello nasceu em Brasília em 1965, quando a cidade tinha apenas cinco anos e o País vivia sob a ditadura militar. “Brasília foi criada por pensadores visuais, artistas, arquitetos, urbanistas estimulados pela possibilidade de ter um projeto, desenhando e redesenhando com uma caneta antes de chegar à maquete. Era um diálogo entre arte e pensamento. O governo militar na década de 1960 tomou poder e declarou os chamados atos institucionais como o AI-5, que transformaram os primeiros conceitos em "arquitetura de exclusão". E completa: “Mas as ideias dos desenhistas da cidade continuavam ali — no silêncio, nas imagens, na formas curvas das ruas e quadras, na arte mural, escolas, parques, jardins. Nós crescemos entendendo que livros deveriam ser realmente poderosos, já que as pessoas podiam desaparecer somente por tê-los. Aprendemos a ler as entrelinhas através de uma linguagem visual, nos tornamos leitores de imagens. Lendo no silêncio.” 

No texto que será lido no México, o autor trata ainda de questões referentes à realidade e ficção, infância e comenta alguns de seus livros. “No Brasil, a humanidade ainda é tocada pela natureza. Ainda há trabalho infantil e trabalho escravo; o ecossistema está sendo destruído pela produção de commodities, como o gusa. Algumas pessoas insistem em dizer que esses não são assuntos de crianças, mas se uma criança participa de uma atividade como essa, então é sim um assunto de criança. As imagens dos fatos falam por si. Eu tenho que me conectar com esses lugares e pessoas. Crianças de todo o mundo deveriam conseguir identificar uma casa como a deles pelo menos uma vez para que seu entorno também possa fazer parte de um conto de fadas já que nem toda casa no mundo tem uma chaminé. Eu preciso ser capturado por coisas que algumas pessoas consideram como não comerciais, difíceis ou muito regionais. Eu confesso que não me preocupa se os livros vão vender ou não. Trabalho com livros e peças porque não há mais nada que eu possa fazer.”

"Carvoeirinhos" é um dos livros em destaque no discurso de Roger Mello Foto: Reprodução

O autor diz ainda que sempre tenta evitar transformar fluxo criativo em arte com foco na denúncia. “Arte não pode ser guiada por nada além da liberdade de ideias. Não quero ensinar nada. Mas imagens ficcionais num país que tem o mais alto índice de assassinato de ativistas ambientais pode, sim, representar um ativismo também.”

Congresso. Roger Mello não é o único brasileiro a participar do congresso. O educador e promotor de Mauricio Corrêa Leite, que vive em Portugal desde 2005 e foi indicado para Pêmio Astrid Lindgren Memorial em 2012, também é um dos conferencistas. Nilma Lacerda, da Universidade Federal Fluminense, faz a palestra Incluir Significa Estar do Lado de Fora da Jaula: Perspectivas na Ficção Para Jovens da América Latina. Silvana Gili e Maria Laura Pozzobon, da Universidade Federal de Santa Catarina, abordam o tema O Inisível na Literatura Infantil Brasileira. 

Já Elisa Duque Neves dos Santos apresenta o trabalho Posia Sem Idade: O Leitor de Manoel de Barros Supera as Etiquetas Para uma Inclusão Significativa. Pozzobon volta ao debate para falar sobre o livro Um Garoto Chamado Rorbeto, de Gabriel, o Pensador e sobre a consciência da diferença. Silvana Gili e Tânia Piacentini falam sobre a biblioteca comunitária A Barca de Livros, localizada na Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Por fim, Wania Maria Previattelli fala sobre a importância da leitura realizada na interação entre alunos antigos e novos.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.