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Paris recebe nova safra de autores brasileiros

Em sua terceira edição, Primavera Literária leva 30 escritores para encontros com estudantes pela cidade

Foto do author Maria Fernanda Rodrigues
Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Jessé Andarilho foi o nome mais festejado pelos alunos de português da Sorbonne quando o professor Leonardo Tonus anunciou a programação da Primavera Literária Brasileira, que será realizada em Paris entre hoje, 21, e quarta-feira, 30.

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Nascido no Rio, em 1981, Jessé escreveu seu livro Fiel (Objetiva) nas cerca de três horas diárias que passava no transporte público carioca. A história acompanha um garoto que poderia ter dado certo, mas que é atraído pelo crime. Jessé é um dos 30 escritores brasileiros selecionados para o evento por Tonus, que, nesta terceira edição, convidou Simone Paulino e Verônica Lessa para ajudá-lo na curadoria.

A lista montada pelo trio não se parece com as listas vistas nas feiras brasileiras ou nas comitivas oficiais que participam de festivais literários. É menos óbvia, e significativa da produção literária atual. Como não existe a obrigação de escolher autores já traduzidos, fica mais fácil seguir os critérios de diversidade de Tonus. “Fiz como faço em sala de aula. Eu disse: podemos trabalhar os grandes autores, mas também temos que dar voz a essa diversidade que é o Brasil – regional, editorial, de gêneros literários, de grupos étnicos e culturais”, disse o brasileiro que vive há quase 30 anos na França.

Inusitado. Trabalho de Jessé Andarilho chamou a atenção dos alunos Foto: ÉDIPO FERRAZ|DIVULGAÇÃO

Paloma Vidal, Paula Fábrio, Lúcia Bettencourt, Lúcia Hiratsuka, Jéfferson Assumção, Roger Mello, Marcio Benjamin, Marcelo Quintanilha são alguns dos autores que se revezam nos debates realizados ao longo do dia e em diversos espaços da cidade. À tarde, o encontro ocorre dentro na universidade com alunos dos ensinos fundamental e médio. À noite, são os grandes encontros – na Sorbonne ou em alguma instituição parisiense e abertos tanto a estudantes quanto ao público geral. Esses debates especiais são em francês, mas boa parte da agenda é em português. Os alunos de Tonus são os moderadores.

Há ainda uma programação diferente. Alguns dos escritores estão sendo convidados a visitar escolas para atividades com alunos mais novos. Jessé Andarilho e Henrique Rodrigues, autor de O Próximo da Fila (Record), que remete à sua experiência adolescente de trabalho atrás do balcão de uma lanchonete, falam com adolescentes. Mas até a molecada foi incluída. Numa escola da periferia, crianças de dois anos e meio e três anos estão preparando a dança do gato, uma atividade feita com base em texto de Susana Fuentes.

A Primavera Literária coincide com o Salão do Livro de Paris, que em 2015 prestou homenagem ao Brasil. Alguns dos autores foram escalados, também, para o evento. Outros irão de Paris a Berlim (Alemanha), Leiden (Holanda) e Bolonha (Itália). É a primeira vez que se articula uma programação assim extensa. O festival não conta com o apoio financeiro do Governo brasileiro ou francês, e o curador explica que é tudo feito de forma colaborativa. Na pauta das discussões, Tonus espera, também, questionamentos sobre a conjuntura política brasileira.

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