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Nova obra de Sábato Magaldi analisa a dramaturgia brasileira em 800 textos

Livro será lançado nesta terça-feira no Teatro Anchieta

Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

O lançamento, nesta terça-feira, 24, às 19 horas, do livro Amor ao Teatro: Sábato Magaldi (Edições Sesc), no Teatro Anchieta, não representa apenas um justo tributo ao crítico mineiro que o dramaturgo Nelson Rodrigues (1912- 1980) chamou de “o melhor” do Brasil. É o reconhecimento do papel desempenhado por ele como ensaísta e acadêmico que, em mais de um livro, analisou a formação do moderno teatro brasileiro com independência e autoridade. O livro Amor ao Teatro, que traz 783 textos do autor publicados no Estado e Jornal da Tarde, entre 1966 e 1988, foi concebido pela mulher e companheira de teatro de Sábato, a escritora Edla van Steen, responsável pela pesquisa e organização da obra com assessoria do professor José Eduardo Vendramini.

A organização do livro é cronológica. Ficaram de fora textos sobre peças estrangeiras, espetáculos de dança ou assinados com as iniciais do crítico que, em 1953, convidado por Alfredo Mesquita para lecionar na Escola de Arte Dramática da USP, acabou aceitando outro convite: escrever críticas para o Estado, o que fez de 1954 até 1988. O período tratado no livro é justamente o que vai da censura ao teatro durante a ditadura até a abertura política, sintetizado num texto publicado em 1986 e que trata da busca de novos caminhos com a volta do País à democracia.

Imortal. No livro, críticas de espetáculos montados por Antunes Filho, José Celso Martinez Corrêa, Flávio Rangel e outros Foto: Wilton Junior/Estadão

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Magaldi teve uma participação decisiva no desenvolvimento do teatro brasileiro na época mais crítica do regime, quando a censura obrigou autores e encenadores a driblar o obscurantismo das autoridades. Graças a ele, autores como Gianfrancesco Guarnieri foram reconhecidos como renovadores da dramaturgia brasileira. Vale lembrar que, nos tempos duros de 1972, foi o crítico que, ao defender sua tese de doutorado sobre Oswald de Andrade, causou surpresa ao eleger o anárquico escritor como o primeiro dramaturgo moderno brasileiro, e não Nelson Rodrigues, que foi amigo de Magaldi por mais de 30 anos. Em sua tese, ele analisa três peças então inéditas de Oswald, duas delas escritas em francês em parceria com Guilherme de Almeida.

Foi justamente nesse ano, 1972, que o crítico assumiu a página de teatro do Jornal da Tarde, vespertino que causou uma revolução na imprensa paulistana (passou a matutino em 1988) e encerrou suas atividades há três anos. Dez anos antes, ele publicara um livro fundamental, Panorama do Teatro no Brasil (pela Difusão Europeia, em 1962, depois reeditado pela Global), em que Magaldi estuda desde o teatro como catequese nos tempos da colônia aos renovadores do palco (Jorge Andrade, Nelson Rodrigues e Plínio Marcos, entre outros, discutindo com eles, sugerindo mudanças nos textos e até cortes).

Magaldi, que nasceu em Belo Horizonte em 9 de maio de 1927, formando-se em Direito aos 22 anos, publicou 18 livros, todos essenciais para o entendimento da evolução do teatro brasileiro. Uma obra sempre lembrada por encenadores é Nelson Rodrigues: Dramaturgia e Encenações (1983), sua tese de livre-docência que traz curiosas observações sobre o autor de Vestido de Noiva, peça considerada por outros críticos como o marco zero da modernidade teatral. Magaldi contabilizou 14 epílogos trágicos entre 19 peças do dramaturgo, notando uma obsessão do autor: duas mulheres amantes do mesmo homem.

Primeiro crítico de teatro eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras, em 1994, Sábato Magaldi também ocupou um cargo público. Foi secretário municipal de Cultura, sendo o responsável pela reforma de teatros de bairros em São Paulo, decidido que estava em descentralizar a cultura quando assumiu o cargo, em 1975. Como o teatro sempre foi sua paixão, voltou à crítica, mantendo paralelamente uma espécie de diário do teatro (que somam 49 cadernos, cada um com 400 páginas) em que registrou o que não publicou nos jornais. Há leitores ansiosos para ler, mas sua edição é improvável por causa de seu conteúdo privado. AMOR AO TEATRO: SÁBATO MAGALDI Organização: Edla van SteenEditora: Edições Sesc (1.224 págs., R$ 154). Lançamento terça, 19 h, Teatro Anchieta

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