No festival literário de Macau, autores brasileiros discutiram a situação política do País

Escritores se posicionaram para uma plateia feita de chineses e portugueses; mercado editorial chinês também foi tema de debates

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Por Guilherme Sobota
Atualização:

MACAU (CHINA) - Estimulados pela participação atenta da plateia presente no prédio do antigo Tribunal de Macau, onde os eventos do Rota das Letras ocorrem, os brasileiros Caroline Rodrigues, Felipe Franco Munhoz e Marcelino Freire concentraram a discussão da mesa que dividiram em Macau na política brasileira, e em como os escritores se relacionam com ela no Brasil.

“Eu me sinto mais político quando estou produzindo um evento de literatura há 11 anos num país em que se lê muito pouco”, disse Freire, que, mesmo assim, se posicionou: “Estou pronto para a guerra. Existe uma caça à esquerda e temos que estar preparados”. Carol – vencedora dos prêmios Jabuti e da Biblioteca Nacional em 2015 – opinou que falta estética na política atual brasileira. “Um artista como Glauber Rocha militava pelo poder da estética, mais do que por uma ideologia. A estética da manifestação de domingo (dia 13) foi horrorosa”, comparou.

Brasil. Marcelino Freire, Felipe Munhoz e Carol Rodrigues Foto: Guilherme Sobota|Estadão

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O tema proposto para a mesa – “a nova literatura brasileira” – também teve seus momentos. “Existe em São Paulo um movimento da literatura da periferia do Brasil, que independentemente de crise, está fazendo poesia e livros, celebrando a poesia há 12 anos, essa prática é muito eficaz para a região”, disse Freire, ressaltando que essa produção dificilmente aparece em balanços da literatura brasileira feitos por especialistas. Munhoz ainda comentou a estranheza que um falante de português sente quando chega a Macau: “Parece que a gente está beijando duas línguas ao mesmo tempo e uma delas é de plástico, não se sente o gosto”.

Outro painel interessante foi o que discutiu os desafios de se publicar livros na China continental. O editor e poeta chinês Shen Haobo falou sobre sua profissão sem embaraços: “Sou um editor capitalista e, quanto pior os livros, melhor eles vendem”. Ele afirmou que a recente difusão das redes sociais é um fator que influencia a atual boa fase do mercado editorial chinês, já que ficou “fácil” vender livros de autores que possuem milhões de seguidores. Questionado sobre a censura oficial do país, ele foi melancólico: “Na China, nós obedecemos”.

Em outro momento, o escritor português Paulo José Miranda, que viveu durante anos no Brasil, em várias cidades, e por alguns meses em Macau, comentou sua estada no país. “Foram três meses intensos. Este lugar é de uma esquizofrenia. É impassível, não teve conflitos (na história). É absolutamente impressionante, porque ninguém consegue conversar.”

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*O repórter viajou a convite do festival Rota das Letras

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