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Mostra 'Múltiplo Leminski' chega a SP

Objetos pessoais, anotações inéditas e cenografia multimídia inspirada na obra do autor são as atrações

Por Guilherme Sobota
Atualização:

 Embora a ligação urbana mais clara de Paulo Leminski seja, obviamente, Curitiba – basta ouvir uma gravação com a voz do Polaco para perceber que ele não pode ser de outro lugar – o poeta múltiplo também deixou suas pegadas pela metrópole paulista: essa é apenas uma das facetas que pretende explorar a montagem da exposição Múltiplo Leminski por aqui, aberta na Caixa Cultural, na Praça da Sé, até o dia 3 de maio.

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Depois de arrebanhar 330 mil pessoas em cinco cidades – a mostra começou em Curitiba em 2012 – e acompanhar a contaminação da lista de best-sellers por poesia (as novas edições da Companhia das Letras já venderam 150 mil exemplares), a exposição, que reúne objetos pessoais, cadernos, poemas inéditos, edições originais e uma cenografia assinada por Miguel Paladino chega a São Paulo com a missão de jogar luz sobre a relação de Leminski com a cidade.

Múltiplo Leminski ocupa uma galeria e uma sala da Caixa Cultural em SP – um espaço muito menor do que o “olho” do Museu Oscar Niemeyer de Curitiba, local original da exposição, o próprio espaço uma obra de arte. Por aqui, porém, algumas novidades fazem a visita valer mesmo para quem já viu a mostra: uma escrivaninha de trabalho original, com muitos de seus livros em várias línguas, e alguns poemas inéditos – anotados em cadernos ou pedaços de papel – dão conta de fazer da exposição uma bonita homenagem ao poeta, morto precocemente em 1989 aos 44 anos.

A ideia de colocar poemas inéditos até hoje, explica Aurea Leminski – filha do poeta e uma das curadoras da mostra, ao lado da irmã Estrela Leminski e de Alice Ruiz, ex-mulher do poeta –, é dar um jeito de mostrar o processo de composição do autor. “Uma das características da obra dele é a sensação de ser algo espontâneo, como se a ideia surgisse pronta”, comenta Aurea – o fato é que não é bem assim. “Nada do que ele fez foi num rompante, todo o trabalho é uma árdua construção”, explica a filha – fator que fica ainda mais claro quando se analisa de perto a parte da biblioteca de Leminski que está exposta: livros de história greco-romana dividem as prateleiras com literatura clássica e moderna e com volumes sobre Bob Dylan.

Foi a busca por essa erudição que trouxe Leminski a São Paulo: as referências e a biblioteca do Mosteiro São Bento inspiraram o curitibano de 13 anos a se inscrever por conta própria no tradicional internato. Segundo Aurea, o aspecto erudito era mais importante do que o religioso (que ele respeitava, claro) – um ano e meio depois, foi aconselhado a deixar a instituição quando os monges encontraram um exemplar de uma revista com fotos sensuais de Brigitte Bardot.

O contato seguinte com a cidade começou, na verdade, no Primeiro Encontro da Poesia de Vanguarda, em Belo Horizonte, em 1963. Lá, conheceu os irmãos Campos e Décio Pignatari, o início de uma amizade e de uma troca intelectual, que incluíam visitas constantes a SP e que durou até a morte do poeta. “Enquanto Leminski era uma referência em Curitiba, os concretistas eram uma referência para ele”, comenta Aurea.

Tal o título da exposição – Múltiplo – outra relação que Leminski desenvolveu com São Paulo foi por meio da música. Compositor agudo e violeiro destreinado, foi na Pauliceia que ele estreitou relações com os londrinenses Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção e também com José Miguel Wisnik.

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Programação. Uma das ideias da curadoria é promover atividades paralelas à exposição por todas as cidades por onde passa – aqui em São Paulo, o Caixa Belas Artes recebe um ciclo especial com filmes inspirados na obra de Leminski, como Ervilha da Fantasia (1985) e a animação Belowars (2004), entre os dias 14 de março e 8 de abril. No dia 21 de abril, ocorre na Caixa Cultural o show LEMINSKANÇÕES, com Estrela Leminski e Téo Ruiz, às 19h15, com entrada franca. A programação se encerra com uma palestra do poeta curitibano Ivan Justen Santana, no dia 25. 

Em um dos poemas rápidos, cortantes e agudos que caracterizam parte da sua obra, expostos na mostra, Leminski brinca e de alguma forma propõe uma breve definição para a cidade em que ele não morou: “cinco bares, dez conhaques / atravesso são paulo / dormindo dentro de um táxi”. 

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