Nas livrarias, uma profusão de novas edições de O Pequeno Príncipe - neste ano, a obra entrou em domínio público. Nos cinemas, uma nova adaptação em cartaz - dirigida por Mark Osborne. Bibliotecário do Mosteiro de São Bento, o monge d. João Baptista olhou para o vetusto acervo quatrocentão e notou mais de 50 edições do clássico de Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944) - algumas delas, bastante raras.
Assim nasceu o conceito da exposição O Pequeno Príncipe Descobre o Mosteiro, de segunda, 26, a sexta, das 14h às 17h, na biblioteca da abadia beneditina (Largo de São Bento, s/nº, centro, São Paulo, telefone 3328-8799, entrada grátis). “É a nossa ‘Semana de Literatura Fantástica’, evento que promovemos há quatro anos para que o público possa interagir mais com a leitura”, explica o monge.
Mais que os exemplares expostos, a programação ainda prevê quatro leituras coletivas da obra - segunda e terça, às 20h; quarta e sexta, às 16h - e um debate sobre o livro no mercado editorial, com a participação de Sergio Reis Alves, produtor executivo da Editora Cosmos - marcado para quinta, às 19h. Durante a semana, uma livraria estará comercializando, no interior do mosteiro, exemplares do clássico - em diversos formatos e com preços promocionais.
Há também, além da conjunção de fatores exposta no início deste texto, uma razão - digamos, sentimental - para que o beneditino d. João Baptista tenha escolhido o livro de Saint-Exupéry para a mostra. É que a primeira e mais difundida tradução brasileira da obra, datada de 1952, foi feita por um religioso beneditino - do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro.
Mineiro de Cristina, d. Marcos Barbosa (1915-1997), foi membro da Academia Brasileira de Letras, colunista do Jornal do Brasil, secretário do poeta Alceu de Amoroso Lima (1893-1983) e deixou uma obra de vinte títulos. Além de O Pequeno Príncipe, traduziu também O Menino do Dedo Verde, de Maurice Druon (1918-2009), e Marcelino Pão e Vinho, de José Maria Sanchez-Silva (1911-2002).
Autor de outra versão de O Pequeno Príncipe para a língua portuguesa, o poeta Ferreira Gullar reputa como “excelente” o trabalho do beneditino Barbosa. “Quando me chamaram para traduzir o livro, era porque naturalmente a editora buscava uma linguagem mais contemporânea. Como é um livro sobretudo para crianças, há essa necessidade de atualização do modo de falar”, comenta, para confessar em seguida que apelava à versão do monge quando esbarrava em alguma dificuldade. “Apesar do meu propósito inicial de fazer a minha tradução sem consultar a versão dele, nos problemas mais complicados eu acabei recorrendo ao texto anterior, sim. Ajudou-me com as possibilidades.”
Títulos. Para a montagem da exposição, d. João Baptista reuniu todos os exemplares disponíveis na biblioteca da abadia - tanto na ala restrita aos religiosos, como na seção que atende aos estudantes do Colégio de São Bento. “São mais de 50 edições diferentes”, enumera. “Entre elas, a primeira edição francesa, de 1946, e a primeira suíça.” Das versões brasileiras, a coleção do mosteiro não tem a primeira; mas conta com uma ainda dos anos 1950.
Há também traduções para o russo, mandarim, japonês, espanhol, italiano e francês. E uma edição em braile. Apesar de emblemática e curiosa, uma amostra pequena quando se lembra que O Pequeno Príncipe é a terceira obra literária mais traduzida no mundo, com versões em 243 idiomas e dialetos - todas elas podem ser conferidas em oesta.do/peqprinc.
O evento, de qualquer forma, deve atrair muitos fãs ao Mosteiro de São Bento. O personagem criado de Saint-Exupéry é muito mais do que o livro que acabou banalizado como “leitura única de toda candidata a miss alguma coisa”. “É uma obra literária das mais profundas”, afirma o poeta Ferreira Gullar.
Escrito há mais de sete décadas - a primeira edição do livro foi publicada em 1943, nos Estados Unidos -, O Pequeno Príncipe contém frases daquelas que hoje, com a velocidade da internet, teriam potencial absoluto para serem transformadas em memes.
Afinal, “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”; “amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção”; “só conheço uma liberdade, e essa é a liberdade do pensamento”; “o verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem”; e “quando a gente anda sempre para frente, não pode mesmo ir longe” são daquelas sentenças tão conhecidas que já se fazem presentes no imaginário coletivo.