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Literatura brasileira gera interesse em Frankfurt, mas faltam traduções

Desde 2008, quando foi criado o projeto Brazilian Publishers, o mercado editorial brasileiro se prepara mais efetivamente para vender sua produção

Foto do author Maria Fernanda Rodrigues
Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

FRANKFURT - São mais de 7 mil expositores de cerca de 100 países. Algo em torno de 270 mil pessoas circulando até domingo. Tem gente só olhando e tem gente procurando algo específico – o próximo best-seller, nos melhores sonhos, ou qualquer outra coisa. Quarta-feira, 14, primeiro dia da Feira do Livro de Frankfurt, apareceu no estande coletivo do Brasil um editor da Nova Zelândia querendo obras com temática indígena. Havia várias. Mas a condição para que ele comprasse os direitos de publicação do título em seu país era a garantia de uma bolsa de tradução.

Desde 2008, quando foi criado o projeto Brazilian Publishers, o mercado editorial brasileiro se prepara mais efetivamente para vender sua produção e poder atender pedidos como esse do neozelandês. O trabalho é de formiguinha. São anos de conversas com agentes e editores estrangeiros para descobrir o que os interessa. E para desconstruir clichês – ou reforçá-los.

Estande do Brasil na Feira do Livro de Frankfurt Foto: Maria Fernanda Rodrigues/Estadão

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Hoje os editores brasileiros chegam a Frankfurt mais maduros. Trazem na mala obras originais e também traduções que eles mesmos fizeram na tentativa de convencer o comprador ali naqueles 15 minutos combinados. Ao todo, 36 editoras exibem livros no estande organizado pela Câmara Brasileira do Livro e Apex-Brasil. No ano passado, o número era ligeiramente maior, 41, e menor do que em 2013, quando o Brasil foi o convidado de honra e 181 participaram.

Para Marife Boix-Garcia, vice-presidente da feira, o País continua se beneficiando da homenagem daquele ano, que resultou em mais de 200 obras de autores brasileiros sendo traduzidas para as mais diversas línguas. “Felizmente as bolsas de tradução oferecidas pela Fundação Biblioteca Nacional seguem como uma política pública. Este é um importante incentivo para a presença no exterior”, disse.

Muitas obras foram traduzidas. No entanto, segundo a agente literária Lucia Riff, não houve uma “onda” de interesse pela literatura brasileira, mas sim um aumento desse interesse provocado por uma série de fatores, como o talento dos escritores, a bolsa de tradução, as homenagens que se seguiram à de Frankfurt, como a do Salão de Paris este ano, entre outros. “Acredito que enquanto a bolsa da Biblioteca Nacional estiver funcionando, será possível fechar muitos contratos”, completa.

Mas o dólar está alto, e a Fundação Biblioteca Nacional já andou assustando o mercado este ano. Em maio, mandou e-mails descartando 28 pedidos já aprovados por falta de recursos complementares. Outras 30 solicitações foram confirmadas à época. Desde 2011, quando o programa foi reformulado, foram concedidas 557 bolsas – 2013 foi o mais cheio, com 209 livros traduzidos, seguido por 2014, com 169. Em 2012, as versões somaram 142, enquanto, em 2011, foram 37. Nesse período foram investidos R$ 4,8 milhões.

A Editora Unesp é uma das que não dependem tanto desse subsídio. Foi ela mesma quem providenciou a tradução de A Abolição, de Emilia Viotti da Costa, obra que deve sair em breve na China e que está sendo examinada por outros editores. “Traduzimos para facilitar, e facilita muito mesmo”, diz Jézio Gutierre, presidente da editora universitária. Ontem, ele recebeu uma oferta pela obra de Isabel Loureiro sobre Rosa Luxemburgo.

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A Universo dos Livros vendeu, dias antes da feira, os direitos de Eu Sobrevivi ao Holocausto, de Nanette Blitz Konig, e de Os Sete Últimos Meses de Anne Frank, de Willy Lindwer, para Portugal, e espera conseguir negociar a publicação dessas obras, lançadas ou representadas por ela, em outros países. “Mas estamos aqui também para vender livros de colorir, que tiveram ascensão e queda rápidas no Brasil, mas que estão começando em outros mercados”, comenta o editor Luís Mattos, de Floresta dos Sonhos, Volta ao Mundo e Pequeno Príncipe Para Colorir. Na mira está o Leste europeu. E a edição dispensa traduções.

Erivan Gomes, diretor da Cortez, foi quem ouviu o pedido do editor da Nova Zelândia. Ele também foi abordado por um indiano interessado nos direitos – desde que não pagasse sozinho o tradutor – de uma obra infantil sobre Paulo Freire para publicação em três línguas. Entre 2014 e 2015, a Cortez vendeu O Colecionador de Águas, de Elaine Pasquali Cavion e Lucia Hiratsuka, para China e Espanha. Outro título de Lucia, Na Janela do Trem, foi comprado pela Coreia. Apesar da vontade de vender, o retorno financeiro ainda é pequeno. Os editores que participaram no ano passado fecharam negócios da ordem de US$ 66 mil.

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