PUBLICIDADE

Homossexualidade de Mário de Andrade domina abertura da Flip

Festa literária de Paraty contou ainda com intervenção do ator Pascoal da Conceição

Foto do author Ubiratan Brasil
Foto do author Maria Fernanda Rodrigues
Por Ubiratan Brasil , Maria Fernanda Rodrigues e Guilherme Sobota
Atualização:

PARATY A afirmação da homossexualidade do escritor Mário de Andrade e uma performance surpresa do ator Pascoal da Conceição, interpretando o próprio autor de Macunaíma, marcaram a mesa de abertura, na noite desta quarta-feira, 1, da 13ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, que confirmou ainda os jornalistas Ioan Grillo (inglês) e Diego Osorno (mexicano) como substitutos do italiano Roberto Saviano, na mesa das 19h30 de sábado, 4.

PUBLICIDADE

A influência da dúbia sexualidade de Mário em sua obra sempre foi tema de pesquisas e debates, mas jamais de forma conclusiva. “Tudo que era relativo a sexo ficou intocado. Assim, cabe a nós dizermos hoje o que sempre foi proibido: Mario de Andrade era homossexual, era gay, e há resquícios dessa sexualidade em toda sua obra”, cravou a ensaísta Eliane Robert Moraes, que dividiu a mesa de abertura com a crítica argentina Beatriz Sarlo e o biógrafo do autor de Macunaíma, Eduardo Jardim. “É preciso lembrar, porém, que não falamos de uma obra gay, ou seja, não podemos reduzir seu trabalho à homossexualidade. É sobre esse fio que hoje devemos trabalhar.”

O tema foi também lembrado por Jardim, que tanto tratou da diversidade poliédrica da obra andradeana como apontou a bivitalidade do escritor, ou seja, como equilibrava a razão com a emoção. Já Beatriz Sarlo mostrou como o modernismo brasileiro e o argentino aconteceram simultaneamente, mas com uma diferença: Mario de Andrade não encontrava equivalente entre os portenhos, especialmente por conta da expansão de sua obra artística.

O ator Pascoal da Conceição veste um terno branco para personificar o poeta e escritor Mário de Andrade Foto: Walter Craveiro/Divulgação

A apresentação dos estudiosos foi subitamente interrompida, porém, por Pascoal da Conceição que, no momento em que Jardim declamava uma poesia da fase final de Mario de Andrade, tomou a palavra e continuou a recitação. Em seguida, subiu ao palco e parabenizou os palestrantes. “Foi algo totalmente inesperado”, disse o curador da Flip, Paulo Werneck. De fato, Conceição contou ter tentado vir à Flip como convidado. Não conseguiu. “Depois, o Sesc ficou de nos trazer, mas não conseguiu por conta da crise econômica. Assim, eu e meus alunos da Escola Livre de Santo André viemos por conta própria”, disse ele que, na sexta-feira, diante da Igreja da Matriz, promete encenar uma versão de Macunaíma.

Pouco antes da abertura oficial da Flip, a organização conseguiu preencher a lacuna deixada pelo italiano Roberto Saviano, que cancelou, na segunda-feira, por recomendação de sua segurança, a participação no evento do qual ele seria a principal estrela. Seu livro mais recente publicado no Brasil foi Zero Zero Zero, sobre o tráfico internacional de cocaína. E foi mais pautado pelo tema desta obra do que pela repercussão do autor que o curador Paulo Werneck convidou dois jornalistas: o mexicano Diego Enrique Osorno e o inglês radicado no México Ioan Grillo. Eles participam, no sábado, às 19h30, da mesa Jornalismo de Guerrilha. 

“Os dois atuam na linha de frente, se enfiam na chapa quente, e como o assunto tráfico cresce no Brasil, e há jornalistas sendo perseguidos, o tema é atual”, diz Werneck. Para o curador, quem esperava ver um debate sobre drogas com Saviano vai ter o mesmo nível de discussão no encontro com os jornalistas, que ainda não são publicados no País. O ingresso da mesa do Saviano poderá ser usado neste novo debate. Quem não tiver gostado da troca pode pedir o dinheiro de volta. 

Enquanto a Flip corria para definir os novos nomes, Saviano, jurado de morte pela máfia italiana e vivendo sob proteção policial, estava na Inglaterra participando de evento na Sociedade Geográfica Real. O tema do encontro realizado na tarde de quarta (horário de Brasília) foi justamente a guerra contra o crime organizado. Ele chegou a postar uma selfie no Twitter comentando que fazia sol em Londres.

Publicidade

Na tarde de quarta-feira, quando os participantes da Flip começavam a chegar a Paraty, o Itaú Cultural anunciava uma ajuda à Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, cancelada este ano por falta de patrocínio. Durante seminário que debateu a literatura fora do eixo Rio-São Paulo, na Casa de Cultura, informaram que patrocinariam 13.º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural, que ocorre paralelamente à Jornada.

Será nos dias 28, 29 e 30 de setembro, em Passo Fundo, e no dia 1,º de outubro, em São Paulo. Do evento gaúcho participam os franceses Roger Chartier, historiador francês especializado em leitura, práticas culturais e os efeitos da revolução digital; Anne-Marie Chartier, especialista em história do ensino da leitura; e os brasileiros Lucia Santaella, Francisco Marinho, Edvaldo Souza Couto e Regina Zilberman. A edição paulistana terá Chartier e Tânia Rösing.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.