Com 40 anos de mercado, Editora Global continua crescendo

Depois de profissionalização na gestão, grupo concretizou recentemente a compra da tradicional Nova Aguilar

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Por Guilherme Sobota
Atualização:

No início dos anos 1970, Carlos Drummond de Andrade veio a São Paulo: não se sabe se a trabalho ou por algum outro motivo, mas é certo que pegou um táxi para o Alto de Pinheiros. Nele, percebeu, embaixo do porta-luvas do motorista, um display com livros à mostra. Descobriu: estavam à venda. Escreveu a crônica Compre Livro no Táxi, e, talvez, sem querer tenha eternizado na literatura uma das origens da Editora Global: 40 anos depois, é uma das mais bem estabelecidas do País, tem um catálogo robusto com mais de 850 autores e uma previsão de faturamento de R$ 85 milhões somente em 2014.

Luiz Alves Junior na sede da editora Global, no bairro da Liberdade, região central de São Paulo Foto: Amanda Perobelli/Estadão

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O mais recente movimento da editora foi a aquisição da Nova Aguilar, “a editora das obras completas”, como diz, orgulhoso, Luiz Alves Junior, fundador e diretor-geral do Grupo Editorial Global. “A previsão é que tenhamos um investimento de R$ 5 milhões a R$ 8 milhões nos próximos anos”, afirma, reforçando que a Nova Aguilar já traz um catálogo poderoso que deve ser recuperado. O objetivo é dar às obras completas (leia abaixo) o mesmo tratamento comercial dos outros selos do grupo, nas vendas para o governo, livrarias e até no porta a porta, sem, porém, “perder a doçura” da editora tradicional.

Já há quatro anos pensando no negócio, Alves Junior considerou a aquisição ao perceber que a Nova Aguilar se encaixava no “feeling” da Global - autores brasileiros com edições cuidadosas. O plano inicial de publicações começa com a obra completa de Machado de Assis - quatro volumes com 1,5 mil páginas cada um -, Fernando Pessoa, Cecília Meirelles, Manuel Bandeira e o teatro de Shakespeare, todas sob a responsabilidade do editor Jiro Takahashi.

Além da manutenção de dois outros selos editoriais sob a alçada da Global - a Gaudí Editorial, voltada à literatura infantil, e a Editora Gaia, com enfoque nas publicações esotéricas - Alves Junior fala entusiasmado sobre outros projetos de expansão e fortalecimento da marca. 

Nos últimos anos, a editora deu prosseguimento à publicação de seus autores em língua espanhola, distribuindo livros traduzidos em toda a América Latina e também para o público hispânico nos Estados Unidos.

O editor ainda cita um dos principais pilares da Global - as vendas para os governos - que ganharam fôlego com a parceria com a ONG Ação Educativa, especialmente na área de educação para jovens e adultos. 

História. Com sede num casarão impressionante na Liberdade (a casa, que foi de Ramos de Azevedo, célebre arquiteto paulistano da belle époque, é definida por Luiz Alves como a mais bela sede de editora do mundo), a Global tem hoje 92 funcionários e é comandada pela família Alves. Jefferson, filho mais velho, chefia a área editorial, e Richard, o mais novo, o comercial, na gestão profissionalizada que hoje dá os rumos da empresa. Em 2011, por exigência do mercado e questão de sobrevivência, a empresa profissionalizou a gestão, contratou mais profissionais e pavimentou a fase mais recente da editora.

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“O livro é um bom negócio”, sentencia Luiz Alves Junior, que recebeu o Estado para uma conversa na sede da editora. Não tem como dizer que não é a voz da experiência: padeiro de formação, o espírito empreender o levou ao negócio do livro: primeiro como distribuidor na Farmalivros (que começou levando livros para farmácias e passou, também, por supermercados e postos de gasolina, antes de chegar aos táxis que levaram Drummond para passear em São Paulo), depois já como diretor comercial da Distribuidora e Editora Global. Para os céticos, ressalva que o trabalho, claro, tem que ser sério e é árduo. Mas, ainda assim, um bom negócio. “Sempre acreditei que o livro era um bom negócio, tanto pela satisfação interior, quanto pelo bolso: dá dinheiro”, garante.

Fundada em 1973 com o sócio moçambicano José Carlos Venâncio, a Global só viu Alves Junior assumir a parte editorial da empresa dez anos depois, quando o sócio teve que sair. Alves Junior continuou o legado: livros socialistas, como o livro vermelho de Mao-tsé Tung, mas também as coleções iniciadas por Edla Van Steen (como a Melhores Contos e Melhores Poemas). “Resolvi conhecer os autores, e me dei bem”, diz, lembrando que não possuía experiência na área ou formação especializada.

Trabalhar com a Codecri, então editora de O Pasquim, ajudou. Alves Junior conta que os autores começaram a notar a Global quando distribuía o jornal nos anos 1970. Quando precisou, a visibilidade existia. Entre os primeiros autores editados por Alves Junior, estão João Carlos Marinho (best-seller do gênero policial), Sidónio Muralha (português que se exilou em Curitiba), Cora Coralina, Câmara Cascudo e Adelaide Carraro.

Os contemporâneos foram se tornando clássicos e a verve do comerciante marcou a atuação da Global até o fim do século 20. Desde os anos 2000, a Global investe na coleção que Luiz Alves Junior chama de Joias da Coroa. É a própria seleção brasileira convocada por ele: entre os “atletas”, Gilberto Freyre, Cecília Meireles, Marcos Rey. Todos exclusivos da editora. E o próximo reforço não fica devendo nada: as negociações estão avançadas para Rubem Braga integrar, de maneira definitiva, o catálogo da Global.

Luiz Alves Junior na sede da editora Global, no bairro da Liberdade, região central de São Paulo Foto: Amanda Perobelli/Estadão

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O time começou quando Alves Junior participou de um leilão promovido pela Fundação Gilberto Freyre para editar as obras do sociólogo. Diz ter feito a pior proposta financeira, mas a melhor proposta de trabalho. Ganhou. “Percebi que tínhamos que atacar esse nicho, o de autores nacionais.” Quis criar um time de futebol, passou a ter também os reservas. Camisa, para ele, sem dúvida não falta.

Edição da Nova Aguilar é “prêmio”

A editora Nova Aguilar abriu as portas, no Rio, em 1950 e nos anos 1970 passou ao comando da família Lacerda, primeiro Carlos, depois Sebastião. Em 2007, o grupo Ediouro começou a administrar a editora, porém, depois de impasses, a empresa voltou às mãos do antigo dono. A editora se destacou pelas edições luxuosas de papel-bíblia e capa dura, como a obra completa de Machado de Assis. Em 2007, Ferreira Gullar, um dos autores que têm a poesia completa publicada pela Nova Aguilar, disse ao ‘Estado’ estar “honrado”. “Quando eu era garoto, jamais imaginei que chegaria tão longe”, disse Gullar sobre a publicação. / G.S.

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Números

3,9 milhões de exemplares foram vendidos pela editora Global em 2013, que para este ano prevê um faturamento total de R$ 85 milhões com seus 1,7 mil títulos de catálogo.

92 funcionários trabalham no Grupo Editorial Global, que também agrupa os selos Gaudí - que vai muito bem nos editais do governo -, Gaia e agora, também, a tradicional Editora Nova Aguilar.

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