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Bem humorado, Colm Toíbín dá aula de literatura na Flip

Escritor irlandês participou de uma mesa na noite de quinta-feira, 2

Por Guilherme Sobota
Atualização:

PARATY - Pela segunda vez sentado na cadeira de convidado de uma Flip, o irlandês Colm Toíbín, autor do romance recém-lançado no Brasil Nora Webster, sobre uma viúva que tenta aos poucos recomeçar a própria vida, esbanjou bom humor e transformou a mesa da Flip na noite desta quinta-feira, 2, numa verdadeira aula de literatura, estética e tolerância.

"Nora Webster é muito sobre luto - ela perde a âncora, não sabe como lidar com aquela questão, e as outras pessoas veem aquele vácuo e tentam preencher", explicou Toíbín, "mas ela está vazia". O romance seria, então, uma tentativa de mostrar, de maneira gradual, como ela própria alcança essa nova etapa da vida sem saber exatamente como.

Colm Toíbín em Paraty Foto: Walter Craveiro/Divulgação

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Toíbín também comentou suas próprias relações familiares - já que o romance é notadamente autobiográfico. "Há sempre um temor de família de que o filho escritor vá roubar as histórias dos pais, que ele será uma espécie de traidor", disse, comparando que não há desconfiança quando a profissão é mais comum, como a de engenheiro, por exemplo. "As mães se preocupam com isso."

Outro assunto que dominou a conversa foi a poeta americana Elizabeth Bishop (1911-1979), que morou no Brasil, e que foi assunto de um estudo profundo de Toíbín. "Uma dor ambígua é liberada de todos os seus poemas", comentou o escritor - para ele, o importante é que Bishop escrevia "olhando para fora", ou seja, utilizava sua difícil história pessoal para oferecer observações bastante particulares sobre a fragilidade do mundo.

A recente legalização, por meio de um plebiscito, do casamento homoafetivo na Irlanda também surgiu no debate - mediado pelo jornalista Ángel Gurría-Quintana. "A campanha do 'sim' começou a contar histórias de pessoas comuns para ver o que acontecia, e foi impressionante", disse Toíbín. Ele explicou como várias autoridades e celebridades, de ministros a repórteres de TV, "saíram do armário". "Eu cheguei a achar que o país inteiro ia sair do armário, até mesmo o arcebispo de Dublin", brincou, arrancando risos da plateia. "As pessoas então começaram a falar umas para as outras, 'votem sim por causa da minha filha, ou do meu filho'", explicou. Até o início dos anos 1990, ser homossexual era ilegal no país.

O escritor ainda comentou suas incursões na poesia ("na Irlanda, não temos Hollywood, Wall Street, quase não temos gente, mas temos muitos poetas, então se você é um mau poeta as pessoas te desprezam") e deu conselhos a jovens aspirantes para a hora de escrever: "você não pode se sentir muito confortável, beber é ruim, drogas são um desastre", e concluiu: "uma boa cadeira dura de madeira é muito melhor para uma frase".

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