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‘Beckett da África’, Alain Mabanckou participa da Flip

O escritor franco-congolês, autor de ‘Memórias de Porco-espinho’ e ‘Vaso Quebrado’, é uma das atrações do festival realizado em julho

Foto do author Maria Fernanda Rodrigues
Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Alain Mabanckou nasceu em Pointe-Noire, na República do Congo, há 57 anos. Aos 22, com uma bolsa de estudo e alguns originais na mala, partiu para a França, onde iniciou, contra a vontade da mãe, que o queria advogado, uma carreira acadêmica e literária que o levaria a ser chamado de o Beckett da África.

Para Alain Mabanckou,é a literatura que vai nos fazer reconsiderar o nosso mundo: 'Ela não permite segregação' Foto: JF Paga Grasset

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Pois o Beckett africano, que lançou, por aqui, em 2013, o infantil Irmã-estrela, pela FTD, e, no ano passado, Memórias de Porco-espinho pela editora Malê, se prepara para sua segunda viagem ao Brasil. A primeira, em 2015, foi para falar sobre literatura numa África em conflito durante o Festival Back2Black. Ele volta agora, em julho, para a Festa Literária Internacional de Paraty – e lança Vaso Quebrado, também pela Malê, obra ambiciosa, tida por alguns como um óvni literário, que tem um único ponto final, no final mesmo, e centenas de referências literárias.

“Eu quis dar mais agilidade às frases e achava que o ponto final me impediria de alcançar o meu objetivo. A vírgula foi a pontuação perfeita porque ela nos dá muita liberdade”, explica o autor ao Estado, em entrevista por e-mail. Professor de literatura na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, onde vive a maior parte do tempo, ele conta também que sua ideia era escrever sobre como, na África, as pessoas lidam com suas vidas quando elas perdem tudo – até mesmo a fé no futuro. “Vaso Quebrado são contos sobre as cidades, os bares e sobre como a vida dos outros é descrita por um narrador que é um cliente antigo de um bar chamado O crédito acabou”, conta o autor.

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Memórias de Porco-espinho é um romance narrado, como o título diz, por um porco-espinho assassino. Ele ataca quem cruza seu caminho por meio de seu alter ego humano. Mas seu duplo morre e o animal tem pouco tempo para dar um jeito na vida. Um tributo, ele explica, à mitologia africana, à tradição oral em que animais podem falar e são iguais a seres humanos.

Autor, ainda, de obras como African Pshyco, ele diz que a literatura lhe deu um novo modo de buscar a liberdade ao mesmo tempo que permitiu que a voz de seu país fosse ouvida. “A literatura é meu espaço de liberdade onde eu posso inventar meu mundo e tentar contribuir com alguma coisa para a humanidade”, completa.

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Numa época em que ainda são necessários movimentos como o Black Lives Matter, Mabanckou acredita no poder da literatura. “É ela que vai nos levar a reconsiderar nosso mundo. A literatura não permite segregação.” Da nossa parte, ele diz, devemos fazer o nosso melhor no sentido de diminuir o ódio que nos leva a excluir uns aos outros.

África. Congo, Brasil. Mesma raiz, diferente tipo de colonização, herança e trauma. “Temos de continuar procurando formas de reescrever a nossa história para além do que foi escrito pelos colonizadores e na qual não somos retratados de forma justa. Nada separa Brasil e Congo a não ser o oco em nossa história e a distância criada pelo comércio de escravos.”

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A Flip será realizada entre 25 e 29 de julho. Entre os nomes já confirmados estão a franco-marroquina Leïla Slimani, a moçambicana radicada em Portugal Isabela Figueiredo, e o egípcio radicado nos EUA André Aciman.

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