'As HQs dos Trapalhões' mostra como foi a empreitada do grupo no mundo dos gibis

Pesquisador da trajetória do quarteto, Rafael Spaca já havia lançado 'O Cinema dos Trapalhões - Por Quem Fez e Por Quem Viu'

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Por Eliana Silva de Souza
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Surgido nos anos 1960, o grupo Os Trapalhões fez a alegria da família com suas histórias hilárias. Como não rir ao ver aqueles quatro humoristas, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, divertindo o público ao brincarem um com o outro. Claro que não se limitaram à telinha da TV: escaparam para o cinema, para o teatro e ganharam as páginas das revistas em quadrinhos. Interessado em saber como essa aventura em riscos e rabiscos se desenvolveu, o escritor Rafael Spaca foi a fundo e, após vasta pesquisa, juntou tudo e oferece ao público As HQs dos Trapalhões (Editora Estronho), que tem prefácio de Dedé Santana. 

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Pesquisador da trajetória do quarteto, Spaca já havia lançado O Cinema dos Trapalhões - Por Quem Fez e Por Quem Viu (Editora Laços). “Agora é a vez de contar a história por trás das HQs. O livro é composto de 27 depoimentos, não levou nem dois anos para fazer. Resumindo, este novo livro é o desdobramento da minha pesquisa a respeito dos Trapalhões. Esse é o primeiro livro em que uma equipe é retratada com igualdade, é o primeiro livro que disseca a produção de gibis em estúdio no Brasil. Além de roteiristas e desenhistas, entrevistei colorista, redator, toda a linha de produção da HQ”, conta o autor sobre o processo de pesquisa.

Esse momento dos Trapalhões nas histórias em quadrinhos é exatamente em uma época de ouro para os gibis nacionais, no período que abrange os anos 1970, 80 e 90. Todo mundo tinha sua revistinha, o Faustão, a Xuxa, a Angélica, Mauricio de Sousa sempre forte, tinha uma gama enorme de revistas.

'As HQs dos Trapalhões' Foto: Acervo Pessoal de Gustavo Machado

“São três as fases das HQs dos Trapalhões. A que menos fez sucesso foi na Editora Escala, ali só tinha o Renato Aragão. E o Renato solo não é Trapalhões, ele perde muito sem os outros três”, conta Spaca. “Na Editora Bloch, os Trapalhões tinham uma pegada mais alinhada à verve do grupo, com aquele humor escrachado, politicamente incorreto e cheio de segundas intenções. Eles eram desenhados em uma idade adulta, o que permitia tudo isso”, afirma. E vem a fase da Editora Abril, na qual os quatro trapalhões se infantilizaram. “Nesse período, humor passou a ser mais inocente, ingênuo e abrangia toda a família. Tanto na Bloch quanto na Abril eles fizeram muito sucesso de crítica e de vendas, por isso permaneceram por vários anos nas duas editoras e até chegavam a incomodar a Turma da Mônica, por exemplo, em número de vendas”, esclarece o autor. 

Em sua pesquisa, Spaca afirma que o quarteto não interferia no roteiro das historinhas. “Pelos relatos, eles passavam longe dos estúdios e não davam qualquer retorno em relação às HQs. Agora, em relação ao desenho dos personagens, houve pedidos sim de modificações. O Mussum, por exemplo, reclamou do tamanho de seu bumbum, achou grande demais, o Didi queria ser retratado com mais cabelo, Dedé sempre foi vaidoso e Zacarias era mais na dele, mas nenhum outro tipo de interferência”, relata. 

Claro que, ao ter contato com os bastidores do processo de confecção e sucesso dos gibis, devem ter surgido histórias pouco ou nada conhecidas pelo público. “Sem dúvida. O livro mostra como é a complexidade da criação de uma HQ. Um exemplo é que, especialmente na fase da Editora Bloch, os redatores do programa dos Trapalhões na televisão se apropriavam das histórias do quarteto nas HQs e as utilizavam na dramaturgia, e, muitas vezes, o autor daquela piada, ao assistir ao programa, levava um susto falando: opa, essa piada é minha!”, se diverte o pesquisador Spaca. 

E olha que sobrou história na gaveta, que acabou não sendo publicada, como é o caso de O Fantástico Didisena. “Essa história do Didisena era para ser publicada em 1994, mas, com a morte de Ayrton Senna, em Ímola, na Itália, acharam melhor não publicá-la. Mas, graças a Gustavo Machado, que fez os desenhos (a história foi escrita pelo Gerson Luiz Teixeira), o público terá acesso a ela. Trata-se de uma história parodiando o mundo da Fórmula 1, com a eterna rixa entre Senna e Alain Prost. Além dessa história inédita, o livro traz imagens raras de esboços, estudos de personagens e rascunhos.”AS HQS DOS TRAPALHÕES Autor: Rafael SpacaEditora: EstronhoPreço: R$ 41,65 (192 páginas)Mais informações: http://www.estronho.com.br

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