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Araquém Alcântara exibe fotos de sua peregrinação pelo interior do Brasil

Livro do autor, 'Veredas', inaugura a Galeria de Babel, em São Paulo

Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

Foram dez viagens nos últimos dois anos, a última delas com quase 10 mil quilômetros percorridos em três semanas. Tudo para registrar a vida dura do sertanejo e paisagens monumentais em lugares com nomes inusitados como Serra das Confusões e Vão das Almas, que o premiado fotógrafo Araquém Alcântara transferiu para o livro Veredas, cujo lançamento, neste sábado, 29, inaugura o novo espaço da Galeria de Babel, que comemora 15 anos. O curador Eder Chiodetto selecionou 15 imagens do livro que estarão expostas na galeria até o fim de janeiro, todas em preto e branco e impressas em quadritone – tom terroso, que traça uma correspondência analógica com a aridez das terras do sem-fim registradas por Alcântara.

Fotógrafo veterano que teve seu livro Amazônia recentemente lançado em Paris pela editora La Martinière – junto ao filme homônimo de Thierry Ragober, do qual foi consultor –, Alcântara começou sua carreira como fotojornalista. Sua ambição como profissional era fotografar regiões remotas do Brasil – e foram justamente esses lugares que o tornaram conhecido. A paisagem e os bichos da Amazônia, a beleza dos parques nacionais e os dramáticos retratos dos habitantes do sertão já renderam 48 livros produzidos nos 45 anos de carreira desse catarinense desde que, ainda estudante de jornalismo em Santos, nos anos 1970, fotografou a vida dos proscritos do cais do porto e da população marginalizada dos mangues.

Dão Sujo. Personagem de Montes Clarinhos, em Minas Foto: Reprodução

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Agora, com o livro Veredas, publicado pela editora do autor, Terra Brasil, Alcântara pretende dar visibilidade a aspectos pouco explorados, como a situação das unidades de conservação do Brasil, entre elas os parques nacionais da Chapada das Mesas em Carolina (Maranhão) e o da Serra das Confusões, em Caracol, no sudoeste piauiense, com suas cavernas e grutas. “Ele tem esse nome porque a areia branca confundia os caminhos dos tropeiros que passavam por lá”, diz o fotógrafo, definindo como uma “epifania” o primeiro contato com as formações cônicas do parque do Piauí, que lembram as da Capadócia, na Turquia.

Leitor de Guimarães Rosa, ele presta em seu livro um tributo ao escritor, fotografando o Parque Nacional Grande Sertão Veredas, na Chapada Gaúcha, na divisa entre os Estados de Minas Gerais e Bahia, onde o desmatamento ameaça os buritis e os ipê amarelos. Sua indignação diante da destruição da natureza no Brasil está registrada em imagens chocantes de queimadas como a do Parque Nacional da Chapada das Mesas, no Maranhão, um santuário ameaçado pelo avanço das carvoarias e empresas agropecuárias. 

Alcântara encara o registro dessas regiões sob risco – a Amazônia incluída – como um gesto missionário para salvar a natureza remanescente, ameaçada por queimadas e pela ação predatória de grandes conglomerados. “Meu próximo projeto, cujo título provisório é O Livro do Fogo, vai tratar justamente da destruição da mata, mostrando imagens chocantes de animais queimados.” Ele não entende como parques nacionais como os anteriormente citados, com grande potencial turístico, são abandonados à própria sorte. “Não conseguimos entender a Amazônia, e também por isso, acredito, devo registrar essas imagens para que as pessoas tomem consciência da situação que ameaça o Brasil inteiro” – e, de fato, a seca em São Paulo, já foi provado, é uma das consequências do desmatamento.

O contraponto dessa destruição, no livro, é a sequência de panoramas que o quadritone aproxima das paisagens do fotógrafo norte-americano Ansel Adams (1902-1984), especialmente as do Parque Nacional de Yosemite. “Sou um esteta, formado na escola de Stieglitz e Steichen”, admite Alcântara, ao se referir a dois fotógrafos que rimavam técnica com estética. Em 2015, o fotógrafo brasileiro vai ganhar a primeira retrospectiva de sua obra com curadoria de Eder Chiodetto e Rubens Fernandes Junior, mostra que deve evidenciar o parentesco com esses mestres do passado.

VEREDAS

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Galeria de Babel. Al. Lorena, 1.257; telefone 3825-0507. 2ª a 6ª, 10 h/19 h; sáb., 11 h /17 h. Até 31/1. Sábado, 29, 12 h, abertura da exposição e lançamento do livro. Até 31/1. 

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