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Walter Firmo: 50 anos de fotografia com a força do acaso

Artista que comemora neste mês 70 anos e 50 de fotografia fala ao <b>Estado</b> sobre a força do instantâneo no seu ofício e relembra os principais momentos da carreira

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Por Redação
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A casualidade na vida de um fotógrafo é tão importante quanto a própria câmera. Por isso, Walter Firmo se arrepende sempre que deixa de carregá-la. Para ele, o acaso foi determinante a ponto de juntar, em um mesmo dia, duas comemorações: seu nascimento e o início de uma gloriosa carreira. O duplo aniversário foi comemorado no dia 1.º, quando o fotógrafo carioca completou 70 anos de idade e 50 de fotografia. Nesta data, ele começou como repórter fotográfico no extinto jornal carioca Última Hora, atividade que abandonou há 20 anos. Mas o presente para seus admiradores chega apenas na terça-feira da semana que vem, dia 26, com a inauguração de uma das várias retrospectivas programadas para este ano, na exposição na galeria LGC Arte Contemporânea, no centro do Rio. Sobre o seu método de trabalho, Firmo garante nunca ter sido um escravo da casualidade. "Nunca gostei do flagra pelo flagra, é preciso ter um algo a mais que me faça roubar uma imagem", conta ele, admitindo, em seguida, uma ponta de arrependimento por uma foto que deixou de roubar: "Perdi uma foto da Brigitte Bardot. Tinha deixado a câmera no carro e, quando vi aquela loira com o namorado, na época em que toda a imprensa andava atrás dela, não quis dar uma de paparazzo, coisa que abomino. Mas depois me arrependi." Se hoje ele se tornou um "devoto da composição", como costuma dizer, também soube aproveitar quando esteve no lugar e na hora certa. Com dois anos de carreira fez uma foto de Garrincha nu, no vestiário do Maracanã, imagem que redescobriu em seu arquivo anos depois: "Naquela época era comum os fotógrafos entrarem no vestiário. Depois ele passou a ser um mito sexual e descobri que eu tinha essa foto." Mostra no Afro Brasil Imagens inéditas encontradas em seu arquivo, aliás, costumam ser freqüentes. No ano passado, foi publicada a primeira retrospectiva de sua carreira, o livro Firmo Fotografia (Ed. Bem-Te-Vi Produções Literárias, 300 págs., R$ 200), como parte das homenagens. "Fotografo muito e nunca tenho tempo de organizar e publicar minhas coisas. Quando morrer, vão aparecer uns 10 livros sobre as várias direções do meu trabalho" Diz. Entre as comemorações do duplo aniversário, a principal delas será uma grande retrospectiva no Museu de Arte Moderna, no Rio, em dezembro. Em São Paulo, Emanoel Araújo prepara para setembro uma exposição no Museu Afro Brasil com 60 imagens em preto-e-branco inéditas e um livro de 280 páginas, Imagens da Terra do Povo Brasileiro, que será lançado pelo museu em parceria com a Imprensa Oficial. Hoje, as fotografias de Walter Firmo mais lembradas são os retratos dos sambistas, em parte pela importância desse registro histórico - resgatados em 2003 pelo galerista Mario Cohen na exposição Um Passeio pela Nobreza - mas, principalmente, pelas construções elaboradas das imagens. "Fui um dos pioneiros nesse tipo de fotografia no Brasil. Eu usava a imaginação como um diretor de cinema", conta. Pixinguinha O retrato do Pixinguinha é o exemplo máximo dessa idéia - apesar de não estar entre as preferidas de Firmo: "Ela mostra uma parte da minha vida em que tive contato com pessoas da música, não é mais o que faço hoje. Fiquei estigmatizado como um fotógrafo colorista e da música popular. Isso é bobagem, eles não conhecem a metralhadora giratória de um geminiano." Outro exemplo de composição são as clássicas imagens feitas para a revista Realidade, em que Firmo fez a mesma foto de uma família na Amazônia nos períodos de cheia e vazante."Essa é uma das minhas favoritas na questão da ‘engenharia’." Há 15 anos, o fotógrafo dedica a maior parte do seu tempo a aulas e workshops, incluindo em São Paulo, todas as segundas-feiras na Galeria Ímã. "Eu convivo com pessoas que me idolatram e querem aprender alguma coisa comigo. Já passaram umas 2 mil por mim nesses 15 anos, uns 40 viraram fotógrafos."

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