Trio de atores que interpretam o rei do baião fala sobre o filme 'Gonzaga'

Longa do diretor Breno Silveira estreia nesta sexta-feira, 26, nos cinemas brasileiros

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Por LUIZ CARLOS MERTEN - O Estado de S.Paulo
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Só em dezembro o Brasil estará comemorando o centenário de Luiz Gonzaga, pernambucano de Exu que virou a própria expressão da alma e da identidade brasileiras. Antes disso, já a partir de sexta-feira, 26, um filme tomará de assalto centenas de salas de todo o País e, em Gonzaga - De Pai pra Filho, o Brasil vai encontrar não um, mas três intérpretes de Gonzagão. Eles estão aí na foto - Land Vieira, o mais jovem, Chambinho do Acordeão, o intermediário, e Adélio Lima, o mais velho. São tão perfeitos que você será capaz de jurar que o velho Gonzaga fugiu de algum túnel de tempo para comparecer à própria festa. O mais impressionante é que a semelhança nem é tanto física. O formato do rosto até é mais parecido com o do diretor Breno Silveira, e será o caso de se perguntar por que ele escolheu atores com essa semelhança. A identidade maior é de temperamento. Está no gesto, na música. Cada um tem seu grande momento em cena - "Peste, gosto demais de tu na hora da despedida do pai, no quartel", diz Adélio para Land e o jovem Gonzaga responde - "É, mas ali quem é bom mesmo é o Cláudio (Jaborandy, que faz o pai)." Chambinho tem cenas memoráveis, mas outra grande cena é quando ele volta ao sítio da família. "Ó de casa!", chama o pai (Jaborandy, de novo e mais uma vez admirável). Adélio é insuperável quando Júlio Andrade, como o filho, Luiz Gonzaga do Nascimento Jr., o Gonzaguinha, lhe atira na cara que está por baixo. "Você não tem o direito de me humilhar assim", ele diz, e você sente a dor. Com sua sanfona, Luiz Gonzaga, o rei do baião, cantou o Brasil, colocou seu amor na voz e na música. Mas Gonzagão, como era chamado, tão amoroso do povo, teve uma difícil relação com o filho, que também deu voz e cara ao País. Gonzaguinha o fez num outro contexto, sob a ditadura militar, da qual o pai, num determinado momento, se arriscava a ser o bufão. Essa história chega agora ao cinema e é bom você ir preparando seu coração. Breno Silveira ama as histórias de pais e filhos. Você sabe disso, basta lembrar o fenômeno 2 Filhos de Francisco e, mais recentemente, À Beira do Caminho. O filme baseado nas canções de Roberto Carlos foi uma decepção na bilheteria, tendo atraído 200 mil espectadores, um nada perto dos 5 milhões que lotaram as salas para ver a história de Francisco, o pai de Zezé Di Camargo e Luciano. Há expectativa de que Gonzaga - De Pai pra Filho venha a ser outro filme-rio, no qual deságue a emoção do público brasileiro. Cinema e música, emoção. Breno Silveira mistura sempre todos esses elementos. Um filme não terá sua cara, se não tiver canções nem cenas intensas. Breno ama os detalhes, como diria o rei Roberto. Ele está nervoso com a expectativa da estreia do filme, na sexta-feira, 26. Gonzaga - De Pai pra Filho foi caro, é uma aposta grandiosa. Mas a preocupação de Breno não é pelo custo nem pelo rendimento. É pelo filme, e pelo personagem. "Nem dez filmes conseguiriam dar conta de Gonzaga. Ele é muito grande, como homem e artista. Espero não decepcionar." O número de salas ainda está fechado, mas serão umas 500. O Nordeste inteiro quer exibir Gonzaga. O velho Lua permanece vivo na região com sua música - e vibração. São Paulo, imersa na Mostra, talvez tenha de correr atrás do prejuízo nas semanas seguintes. Pode ser bom, avalia Breno - 2 Filhos de Francisco já havia estourado no Brasil quando o público de São Paulo começou a vê-lo em massa.Três em um. Como cobre um período muito grande de tempo - a vida de Luiz Gonzaga, da juventude à velhice, a de Gonzaguinha, da infância à maturidade -, Gonzaga faz com que diversos atores se revezem nos papéis. De Gonzaguinha, você vai reter principalmente Júlio Andrade, tão perfeito na recriação do personagem que provocou verdadeira comoção nos filhos e na mulher do criador de Explode, Coração. Vai ser mais difícil escolher o melhor Gonzagão - Land Vieira, Chambinho do Acordeão ou Adélio Lima. Três atores que criam um mesmo personagem e produzem na tela um milagre - uma mesma interpretação. É como se o mesmo intérprete atuasse com maquiagem. Quem deu o calibre para a unidade de interpretação? O trio conversa com o repórter do Estado num hotel da Avenida Faria Lima. Land já fez novela, Cordel Encantado. Adélio trabalha no museu de Luiz Gonzaga em Caruaru. Faz teatro amador e tem a prática de criar um Gonzagão 'para fora', como aquele que animava as festas de São João. Chambinho é principalmente um artista do acordeão. Houve um exaustivo trabalho de peneira. Cerca de 5 mil atores e sanfoneiros se inscreveram para fazer o papel. Nascido em São Paulo numa família de sanfoneiros do Piauí, Chambinho perdeu dez quilos para interpretar Gonzagão dos 30 aos 50 anos. Adélio, pelo contrário, teve de engordar (e o Fantástico já mostrou sua dieta reforçada). "Representar Luiz Gonzaga foi difícil", diz Chambinho. "Tive de pensar nele como personagem, separado do ídolo, senão não ias dar conta." A mulher e empresária foi quem lhe deu força. Saíram numa madrugada de São Paulo, depois de um show de Chambinho, por conta e risco. Alugaram um carro, ela dirigia, ele descansava e decorava falas para o teste decisivo, no Rio. O curioso é que Chambinho e Adélio Lima concorriam na mesma faixa. Quando escolheu Chambinho, Breno Silveira não se desligou de Adélio, que terminou chamado para fazer o Gonzagão mais velho. Aquele gesto, quando Gonzaga diz que uma mulher pode levantar um homem, é de Adélio. Passou para Land. "Houve mais de uma vez que eu achava que fazia bem a cena. Em outras, pensava comigo. 'Xiiii, lascou.' Eram as que o Breno preferia. Ele é um capeta pra tirar da gente o que a gente não sabe que tem pra dar", define Adélio. O trabalho de preparação do trio foi feito por Sérgio Penna. Na convivência, forjaram o mesmo personagem - maior que a vida e, ao mesmo tempo, demasiado humano. Em janeiro, Gonzaga vai passar como microssérie na Globo.

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