Sucesso de Bienal, feiras e leilões confirma o interesse crescente pela arte contemporânea brasileira

Numa noite apenas, por exemplo, o leilão de James Lisboa encerrou com R$ 3, 251 milhões

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Por CAMILA MOLINA - O Estado de S.Paulo
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Anteontem à noite, a tela Colheita de Cacau (1948), de Candido Portinari, foi vendida em leilão do James Lisboa Escritório de Arte realizado em São Paulo por R$ 1,4 milhão. "A obra irá para uma grande coleção", disse o leiloeiro, que colocou 184 lotes de arte moderna e contemporânea no pregão. O valor do quadro de Portinari não é uma novidade, uma vez que o mercado de obras modernistas brasileiras está estável há anos - artistas ainda como Di Cavalcanti e Lasar Segall são donos também de altas cifras. Mas, de uma forma geral, a movimentação do comércio de obras de arte no Brasil vem sendo aquecida nos últimos anos, acompanhando o ritmo da economia brasileira. Há compradores dispostos a gastar em obras de arte. Numa noite apenas, por exemplo, o leilão de James Lisboa encerrou com R$ 3, 251 milhões seu valor total de vendas. Mais ainda: afirma-se, extraoficialmente, que a feira ArtRio, cuja segunda edição terminou no domingo na capital carioca, contabilizou cerca de US$ 75 milhões em comércio de obras. Uma pesquisa realizada em maio pela Associação Brasileira de Arte Contemporânea (Abact) apresentou que o cenário aquecido brasileiro cresceu 44% nos últimos dois anos. "Achamos uma glória quando saiu este número", diz Eliana Filkenstein, sócia proprietária da Galeria Vermelho, em São Paulo, e presidente da Abact, entidade com 50 associados de sete Estados do País. "Estamos vendendo muito internamente", diz ainda a galerista - a pesquisa também informa que, entre os compradores no Brasil, 65%, é de colecionadores particulares; 15% de estrangeiros; e que apenas 8% das vendas são para instituições brasileiras, sempre com pouca verba para aquisição. "O Brasil entrou no cenário mundial da arte por dois caminhos: com o reestabelecimento da credibilidade da Bienal de São Paulo, e com as feiras (referindo-se às grandes SP-Arte e ArtRio)", diz o marchand Peter Cohn, proprietário da Dan Galeria. De fato, no início do mês, a abertura da 30.ª Bienal de São Paulo, com curadoria-geral do venezuelano Luis Pérez-Oramas (curador da arte latino-americana do Museu de Arte Moderna de Nova York), alavancou a vinda de diretores de importantes instituições estrangeiras e contingente expressivo de colecionadores latinos, como conta Eliana Filkenstein. "Não fiz as contas, mas vendemos bem nessa época", diz a galerista, que exibe individual do jovem artista Nicolás Robbio na Galeria Vermelho. Tanto Eliana Filkenstein, quanto Peter Cohn e James Lisboa, concordam que não é pura especulação o aquecimento do mercado de arte brasileiro - o estouro ocorreu há cerca de 8 anos e eles frisam que, nos últimos três anos, o cenário vem caminhando para uma estabilização. "Os valores não estão subindo como foguete e a estabilidade cria um novo mercado, com giro e equilíbrio", diz o leiloeiro. O destaque é o concretismo e o neoconcretismo brasileiro - e a "bola da vez" é a obra de Willys de Castro (1926-1988).

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