Velhos tempos. Estudei numa “high school” americana e durante três anos, todas as manhãs, botava a mão sobre o coração e jurava lealdade à bandeira dos Estados Unidos da América, uma só nação, sob Deus, com liberdade e justiça para todos. Bem, para todos não. As escolas eram segregadas, não tínhamos colegas negros. Eu estava lá quando a Corte Suprema ordenou a desagregação. Houve reação violenta em outras escolas brancas da região, mas a nossa aceitou a novidade sem problemas. Sempre atribuí isso à quantidade de judeus na escola, num tempo (que já passou) em que ativistas liberais judeus apoiavam os movimentos por direitos civis dos negros.
Pensei nesses velhos tempos e em como as coisas mudaram vendo um presidente americano negro – desculpe, afrodescendente – visitando a terra dos seus ancestrais na África. Um presidente não apenas afrodescendente, mas afrodescendente direto, com parentes próximos na terra do seu pai. Pensei em que mais teria mudado, além da ascensão de Barack Obama e tudo que ela simbolizou. Não sei se, nas escolas, ainda fazem o juramento à bandeira como antigamente. Sei que o “sob Deus” foi discutido, não sei se permaneceu. Anos depois, fui visitar a minha escola em Washington. Não vi nenhum aluno branco. Era uma escola pública. A maioria dos brancos devia ter se transferido para escolas privadas. Extraoficialmente, a segregação continuava.
No meu tempo, num dia por semana, havia instrução militar. Eu tinha que ir à escola fantasiado de soldado, com quepe e tudo. Fazíamos ordem unida e eu apreendi a desmontar e remontar um rifle. Que seria inútil contra a maior ameaça aos Estados Unidos na época, um ataque nuclear dos russos. A intervalos, havia ensaios para o caso de bombardearem Washington. Íamos todos para o porão da escola, desconfiados de que ali não estaríamos muito mais seguros do que na superfície. Imagino que não façam mais isso, a não ser por medo de alguma loucura retrógrada do Putin.