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Ressaca pós-eleições

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Por Vanessa Barbara
Atualização:

A menos que todas as urnas do país deem tela azul ou o Brasil entre em guerra com o Butão, por algum motivo que me escapa, no momento em que esta coluna for publicada já teremos o resultado das eleições presidenciais. Logo pela manhã, os eleitores do candidato vencedor irão tirar sarro dos rivais junto à máquina de café da firma. Serão propagadas piadinhas infinitas a respeito do adversário; haverá quem falte no trabalho alegando motivo de doença. Os campeões irão proferir discursos insuportáveis e elencar as grandes obras que seu candidato há de empreender nos anos vindouros, prevendo pujança, progresso e a erradicação de todo o mal sobre a Terra. Muitos sairão às ruas com orgulhosos adesivos colados ao peito. Outros vão gritar: "Eu já sabia!" e dizer que, desta vez, o povo votou com consciência. (Lembro da minha vizinha baixando o vidro do carro, vibrando e gritando: "Agora é Collor!" com genuína alegria.) Do lado contrário, vão dizer que a maioria é ignorante e não sabe votar. Haverá birra e indignação nas redes sociais, onde irá pairar o mesmo clima das noites de quarta-feira em que o Corinthians perde de goleada. Com o passar do tempo, porém, os ânimos se acalmarão e restará o vago revanchismo de quem deseja que as coisas deem errado só para ter razão. Pensando no vazio deixado pelo fim das eleições e na necessidade constante de bloquear maus amigos nas redes sociais, sugiro a imediata adoção de novos e acirrados bipartidarismos. A única condição é que haja intransigência e que o outro seja tachado de "burro", "mal-intencionado" ou simplesmente "errado". Exemplos: Destros vs. canhotos: Destros são conservadores e intolerantes às minorias. Canhotos são criativos e liberais. Gatos vs. cachorros: Felinos são dissimulados, ariscos e interesseiros. Cães são sinceros e heroicos. Tesourinha vs. trim: Refere-se sobretudo à habilidade do indivíduo para cortar as unhas da mão dominante. Falta destreza (e honestidade moral) aos adeptos do cortador. Agrião vs. rúcula: Quem é pró-rúcula defende a manutenção de privilégios herdados, a especulação imobiliária e a pochete. Ninjas vs. samurais: Ninjas são vândalos e desordeiros. Samurais têm honra e lutam por ideais. Tucuruvi vs. Jabaquara: É inegável que os habitantes da zona norte exalam uma sofisticação muito difícil de suplantar. Balzac vs. Flaubert: Sempre declarar devoção a quem perde o sono em busca da palavra justa, em detrimento da produção febril e do enriquecimento fácil. Coxinha vs. empadinha: Os tempos não andam propícios para quem é do primeiro time - e com razão. Praia vs. campo: Praia é coisa de coxinha que gosta de rúcula e mora no Jabaquara. Repassem.

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