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Regina Silveira propõe joia para ser usada e contemplada

A artista desenvolve um bracelete em forma de labirinto, imagem recorrente de seu trabalho

Por Maria Rita Alonso 
Atualização:

Todos os labirintos de Regina Silveira têm saída. Apesar de serem percursos geométricos intrincados, secos e difíceis de encarar, grande parte das dezenas de obras da artista com essa temática apresenta um caminho viável, possível. Em sua longa e bem-sucedida carreira, Regina produziu gravuras, esculturas, instalações multissensoriais, ocupações urbanas, e firmou-se como uma das artistas contemporâneas brasileiras mais renomadas e bem cotadas no mercado internacional – suas obras vão de US$ 15 mil a US$ 200 mil e são negociadas geralmente na moeda norte-americana. Uma de suas características é investir em pesquisas digitais, desenvolvendo obras tridimensionais com a ajuda da tecnologia, como a instalação Odisseia, que faz parte da mostra Consciência Cibernética, em cartaz no Itaú Cultural.

Agora, aos 78 anos, ela está explorando mais uma área criativa. Ao lado de ourives e artesãos da joalheria Talento, Regina acaba de criar uma série limitada de joias em ouro, reproduzindo os percursos labirínticos tão recorrentes em seu trabalho, desde os anos 1970. Intituladas Braceletes-Labirintos (2017), as peças foram produzidas em três versões: ouro amarelo, branco ou negro, como parte do projeto ‘Joia de Artista’, com curadoria de Waldick Jatobá. “Minha ideia era criar uma peça que gerasse reações lúdicas, como se fosse um game, mas que ao mesmo tempo fosse uma joia que estimulasse alguma reflexão e com a qual eu me identificasse”, conta Regina. “Saí criando formas e trajetos e pensei em uma pedra, em curva helicoidal, que pudesse ‘caminhar’ pelo circuito labiríntico da joia.”

Regina Silveira Foto: REUTERS/Tomasz Stanczak

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Os pingentes que adornam os braceletes de ouro são feitos de lápis-lazúli e coral, jade e ônix, e ônix e ágata. Serão apenas 10 peças, todas numeradas, com lançamento previsto para o dia 19 de agosto, na galeria Luciana Brito. A marca não informa o valor das joias, mas o Estado apurou que cada uma deve custar cerca de R$ 150 mil. “O desafio era criar um labirinto funcional e também escultórico, seguindo o conceito do projeto que enxerga a joia como um objeto feito para ser usado e também para ser contemplado”, diz Jatobá. “Regina me pareceu fundamental para o projeto porque há décadas ela equaciona questões puramente estéticas com reflexões políticas e sociais sobre o imperialismo. Seus trabalhos são repletos de significados.” 

Com obras em coleções permanentes de museus como o MoMA de Nova York, Regina parte neste segundo semestre para uma série de compromissos internacionais. Entre eles, participa da mostra Radical Women: Latin American Art, no Hammer Museum, em Los Angeles, ao lado de outras artistas como Lygia Clark. A inauguração será no dia 15 de setembro.

Com discurso poético e grafismos marcantes, Regina já cobriu, em 2010, os 320 vidros da fachada do Masp com um diagrama de bordado de um céu azul com representações de nuvens em ponto cruz. Suas obras mimetizando derrapagens de pneus também já adesivaram galerias e edifícios famosos.

“Quando vi a obra Derrapagens, logo imaginei brincos e colares em ouro texturizado. Mas depois das primeiras conversas, intermediadas pelo Waldick, chegamos à ideia de trabalhar com o labirinto”, diz Jacques Rodrigues, diretor da Talento e idealizador do projeto.

Em uma época em que o mercado de luxo busca um significado especial para suas produções feitas com primor em pequena escala (e por isso mesmo caras), aliar a produção criativa a talentos artísticos acaba sendo um investimento, uma boa saída. No ano passado, o ‘Joia de Artista’ foi lançado com uma reedição do majestoso Colar Cascata, da arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992). Até 2020, a cada ano, uma artista será convidada para assinar uma edição de joias como parte do projeto. 

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