Esta crônica é um atestado da minha vulnerabilidade perante a turma, que às vezes parece esquecer que existe uma pessoa de verdade por trás dessas letras e fala coisas que jamais diria na vida real, caso estivesse olhando para mim.
Críticas são bem-vindas, sobretudo quando se referem ao conteúdo do texto. Algumas vão um pouco longe demais, com os autores fazendo verdadeiras análises literárias: “Quando você escreve sobre nabos não se sai tão bem, limite-se a temas mais cítricos”, ou: “A colunista não anda numa boa fase. Essa crônica de hoje é o cúmulo da bobagem”.
Duro, porém necessário.
Contudo, a coisa às vezes pode descambar. “Perca tempo com coisas mais úteis”, diz um leitor. “Depois de tantas postagens medíocres, a cara postadora fez bem em colocar algo insosso e aguado”, analisa outro. “Quanta bobagem em espaço nobre!”, desabafa um terceiro, concordando com uma moça que cravou: “Texto piegas e medíocre”.
Num artigo para o Estado, o psiquiatra Daniel Martins de Barros escreveu que na internet o exercício da empatia fica prejudicado, fomentando atitudes de desprezo. E quando não temos freios sociais, como o olhar alheio, podemos funcionar como psicopatas.
“Você é simplesmente ridícula”, escreve um leitor. “Tenho pena de uma pessoa tão vazia quanto você”, vocifera outro, pedindo a minha demissão.
Algumas ofensas até que me divertem, como a do sujeito que ponderou: “Esperar o que de quem só tira o pijama para colocar outro”. Ou então: “Vai regar umas hortaliças, filha”. E a minha preferida, que foi recebida com veementes protestos da minha mãe: “Pelo seu artigo de hoje, dá pra notar o quanto você comeu de merda quando criança”.
Quando escrevo sobre política ou direitos humanos, a maioria dos comentários contrários não traz argumentos, apenas insultos. Boa parte só diz coisas como: “Tá com pena? Leva para casa” ou “Não gosta da polícia, liga para o Batman”, o que não acrescenta nada à discussão. Uma ou outra vez respondi respeitosamente tentando explicar melhor minha posição, e o leitor confessou que leu rápido o texto ou nem passou do título. Quando erro, peço desculpas.
“Lixo de pessoa”, “medíocre”, “cretina”, “ralé” e “véia” são os xingamentos mais leves. Muitos me mandam tomar no c... e usam um palavreado de fazer corar a Dercy Gonçalves. Já recebi ameaças de morte e teve um cidadão que escreveu: “Jornalistazinha de meia tigela defensora de vagabundinho... Torcemos para que seja você ou alguém da sua família assaltada e morta por um desses vadios que tu defende, jornalista fracassada... Torcemos e há de acontecer”.
Meu pai, assustado, apenas diria: “É, a turma acho que não gostou”.