Produção nacional mostra diversidade na Première Brasil

PUBLICIDADE

Por AE
Atualização:

Na semana passada, a reportagem comentou que dificilmente surgiria na Première Brasil filme melhor do que "A Busca", de Luciano Moura, com Wagner Moura. O impossível está ocorrendo no Festival do Rio. A Première Brasil, principal vitrine do cinema brasileiro, tem mostrado grandes filmes. Surgiu outro tão bom quanto "A Busca". O mais interessante, ou mesmo impressionante, é que "O Som ao Redor", de Kleber Mendonça Filho, não poderia ser mais diferente. E viva a diversidade. O filme embola tudo - a disputa pelo troféu Redentor nas categorias de filme, diretor e ator, com o poderoso Irandhyr Santos.Wagner Moura, em "A Busca", faz um homem cuja vida já implodiu na primeira cena. Ele está desesperado no meio da estrada, ouve-se o som do que parece um acidente de carro. Na sequência, vemos esse homem chegar numa casa que está sendo desmontada. O casamento acabou, ele não tem diálogo com a mulher nem com o filho. O garoto some, cai na estrada. E no lombo de um cavalo. Como? "Traz o meu filho", geme a mãe chorosa, Mariana Lima. Wagner, como um herói trágico, vai tentar refazer sua família, mas o tempo todo ele está instável.Irandhyr Santos, pelo contrário, é o homem em controle da situação. Frio e metódico. É o segurança que oferece seus serviços em "O Som ao Redor". Ao contrário de "A Busca", que conta uma história - a de um pai em busca do filho -, "O Som ao Redor" conta diversas histórias para não contar história nenhuma. É uma crítica que algumas pessoas fazem ao filme. Ele é muito mais uma obra de observação social. Situado no Recife contemporâneo, seleciona um recorte da cidade - uma comunidade, uma rua. Mas, nessa rua, o diretor consegue conter todo o Recife e todos os conflitos da sociedade pernambucana.Há esse senhor de engenho que vela sobre os destinos de todos. Ele tem dois netos - o que é corretor e vende os apartamentos do avô e o outro, a ovelha negra da família, ladrão de carros. O quadro de personagens amplia-se - a mulher que sofre de insônia e o cão que ladra (e inferniza a vida dela), a doméstica do velho coronel, que vai para a cama com o segurança. O tempo todo, sem narrar propriamente uma história, Kleber Mendonça Filho cria uma tensão subterrânea. Esse mundo vai explodir, mas como? Qual o papel do personagem de Irandhyr na explosão? Quando ela vem, é um anticlímax que não tem o efeito de descarga dramática para o espectador. Não o liberta como a catarse das tragédias gregas.O cinema brasileiro tem dado provas de diversidade na Première Brasil. Algo de muito interessante está se passando em "A Busca", em "O Som ao Redor", em "Meu Pé de Laranja Lima", de Marcos Bernstein, em "Éden", de Bruno Safadi, no próprio "O Gorila", de José Eduardo Belmonte, que tem seus defensores apaixonados entre a crítica. Esse algo inclui a animação "Uma História de Amor e Fúria", de Luis Bolognesi, e documentários como "O Dia Que Durou 21 Anos", de Camilo Tavares, e "Jards", de Eryk Rocha. Um cinema forte, transgressivo. As apostas de bilheteria continuam sendo as comédias como "Até Que a Sorte nos Separe", de Roberto Santucci, ou os filmes de grande espetáculo, épicos (por que não?) como "Gonzaga", de Breno Silveira. Mas o azarão "Totalmente Inocentes", de Rodrigo Bittencourt, já bateu 500 mil espectadores. Tudo é possível. O cinema do Brasil pulsa em muitas caras. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.