Peça brinca com a crítica Bárbara Heliodora

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Por Agencia Estado
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Não é tarefa fácil ser crítico. Mesmo os mais prestigiados, os que indubitavelmente demonstram sólido conhecimento de seu objeto de análise, dificilmente deixam de atrair a ira provocada pelo sentimento de injustiça de alguns criticados. A revolta contra uma crítica supostamente injusta é o ponto de partida da comédia Bárbara não lhe Adora, espetáculo carioca escrito e dirigido por Henrique Tavares que estréia amanhã no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). O título faz referência à crítica Bárbara Heliodora, cuja fama é a de não utilizar eufemismos ou meias palavras quando se trata de apontar equívocos em montagens teatrais. Profundamente indignado com a crítica arrasadora que lê sobre sua "genial" adaptação de Romeu e Julieta, o diretor Geraldo Góes Antunes Júnior Filho (Charles Paraventi) resolve seqüestrar a crítica Bárbara Heleonora (Ana Paulo Abreu). Sua idéia é obrigá-la a ver novamente todo o espetáculo, acrescido das devidas explicações, uma vez que, segundo ele, a crítica evidentemente não entendeu sua proposta. Para isso, envolve toda a sua "trupe mambembe de vanguarda", que ensaia a "ação" como se preparasse um espetáculo, com direito a concepção de figurinos, iluminação e texto. Ensaia e realiza o plano, trazendo para o palco a crítica que, amordaçada, será obrigada a ouvir e ver em silêncio, mais uma vez, a "genial" criação da trupe. Mas o bom dessa comédia é que sob o pretexto de criticar a crítica, Henrique Tavares acaba por criar uma sátira inteligente sobre o próprio teatro, apontando equívocos, como a pretensão sem consistência ou a precariedade de recursos que fatalmente compromete resultados. Uma frase sintetiza este último problema: o diretor admite ter escalado para o papel de Julieta a "pior" atriz do elenco, porque ela é mulher de um dos apoiadores do espetáculo. "Fiz isso por amor à arte, do contrário não tinha peça", argumenta ele com essa pérola de contradição. Bárbara não lhe Adora fez gargalhar a platéia que lotou o espetáculo em todas as apresentações no Fringe do Festival de Teatro de Curitiba deste ano. Para os profissionais de teatro é, com certeza, uma comédia divertidíssima. Mas deve fazer rir a qualquer espectador que já tenha sido torturado por uma trupe ruim que se leva a sério. Infelizmente, elas existem. Bárbara não lhe Adora- Texto e direção de Henrique Tavares. Duração: 80 minutos. Quinta a sábado, às 21 horas; domingo, às 19 horas. R$ 10,00. TBC - Sala Assobradado. Rua Major Diogo, 315, em são Paulo, tel. (11) 3115-4622. Até 29/7.

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