Os cronistas do Divirta-se e o delicioso debate sobre... cupcakes

Crônica que critica os bolinhos da moda foi publicada com nome de autor que é louco por eles

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Por Redação
Atualização:

O texto 'Boloxícara', do cronista Ricardo Freire, foi publicado na seção 'Só Mais uma Coisa', da edição de 20 de agosto do Divirta-se, com a assinatura de outro cronista do caderno, André Laurentino.

 

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O engano seria facilmente resolvido com uma errata, não fossem as opiniões completamente divergentes dos dois escritores sobre o assunto tratado naquela crônica: cupcakes.

 

Em seu texto, Ricardo Freire explica por que odeia tanto os bolinhos da moda - e André Laurentino é completamente louco pelo bolinho. Na semana seguinte, André fez questão de escrever sobre seu amor pelo quitute. O Divirta-se, então, convidou os dois para um encontro na loja Wondercakes, especializada em cupcakes.

 

Será que mesmo com os 28 sabores da loja Ricardo Freire continua avesso à moda americana? Veja a matéria da TV Estadão e leia abaixo as crônicas que originaram o debate:

 

 'Boloxícara', de Ricardo Freire (crônica que por engano foi assinada com o nome de André Laurentino) De onde vem o cupcake? O seu equivalente masculino - e salgado - eu sei: o temaki existia desde sempre, ainda que meio escondido nos cardápios dos japinhas mais tradicionais. Mas o cupcake, que eu entenda, não passa do legado mais calórico de 'Sex and the City'. Ainda me lembro da primeira vez que experimentei um cupcake. Apresentado a uma guloseima dona de uma popularidade aparentemente maior que a do Lula, abocanhei com vontade e - ugh! Quem foi que teve a infeliz ideia de estragar um muffin honesto com essa cobertura nojenta? Aquele creme amanteigado era uma gosma indefinida, algo entre o chantilly e o glacê - duas outras categorias de coberturas a que sempre devotei o meu mais absoluto desprezo. Alguém aí já ouviu falar de creme amarelo de sonho de padaria? Mil vezes mais gostoso! Desde que tive essa primeira experiência, há um ano, o fenômeno só vem ganhando força. Para onde quer que você olhe, tem alguém vendendo cupcake. Não é só na rua. Todo mundo que traficava trufas, cestas de café da manhã e produtos Natura agora parece ter migrado para o cupcake. Os que gostam dizem que alguns desses cupcakes feitos por encomenda são autênticas obras de arte. No começo da semana resolvi me conceder uma segunda chance. Se 120% das pessoas amam cupcake, parece claro que eu estou perdendo alguma coisa. Daqui a pouco a onda passa e só eu não aproveitei. Resolvi fazer a coisa do jeito certo. Fui ao Twitter. Usei 140 caracteres para expor o meu caso. E mais 140 para pedir uma indicação: se eu tivesse só uma chance de gostar de cupcake, onde deveria ir? Em menos de dez minutos eu já tinha sugestões suficientes para passar um mês inteiro à base do doce. Na terça-feira fui até o lugar mais recomendado. Pedi três cupcakes bem diferentes entre si. Um tinha uma cobertura amanteigada nojenta, uma gosma indefinida entre o chantilly e o glacê. O outro veio com uma panela inteira de brigadeiro virada por cima. O terceiro tinha uma cobertura quase tão espessa quanto o bolinho; nenhum restaurante serviria aquilo sem uma bola de sorvete de creme do lado. Preciso urgente de um sonho de padaria. Mas um temaki também serve. 'Doce Erro', de André Laurentino (crônica publicada com o nome dele mesmo) Um feliz erro de revisão me fez falar com a voz de Ricardo Freire. Na semana passada, seu texto saiu com o meu nome por engano. Tive sorte. Primeiro porque sempre quis escrever como o Ricardo. Consegui. Depois, porque eu adoro cupcakes, e ele detesta. E alardeou para os quatro ventos sua opinião, que acabou virando a minha. Recebi, desde então, diversos e-mails com receitas de cupcakes, sites de cupcakes e endereços dos melhores lugares para se comer os bolinhos, em São Paulo e ao redor do mundo. Guardei tudo com carinho. Mas o melhor veio até minha mesa, numa terça-feira que nada prometia. Chego do almoço e encontro um pacote enorme, lacrado com o selo amarelo da Luana Davidsohn, que tem nada menos do que uma oficina de cupcakes. Oficina! (Palmas, por favor.) Abro a caixa. Vejo coberturas variadas, bolinhos exibindo biscoitos de chocolate, outros decorados com açúcar granulado azul, a mesma cor do envelope que guardava uma cartinha. Tudo isto para desfazer a má impressão que tenho dos cupcakes. Minha paixão por eles vem desde antes do nome chique. Quando ainda se chamavam 'bolinhos bacia', e eram vendidos na padaria de Joaquim, em Olinda. Os melhores eram os dormidos, de casca mais dura. Sem cobertura. Eu chegava e Joaquim já sabia qual portinha de fórmica abrir para servir o menino magro que devia mesmo ser muito ruim para comer tanto doce e nunca engordar. Depois foram as broas de São José da Coroa Grande, com recheio de goiaba. Até que, já adulto e metido, fui à Magnolia Bakery em Nova York. Naquela visita, cada cliente só podia comprar seis bolinhos. Levamos nossa meia dúzia para o hotel e posso dizer que uma noite de sono fez tão bem a eles quanto aos bolinhos do Joaquim. Eu e minha mulher comemos assistindo ao Oscar e à neve pela janela. Voltamos à Magnolia este ano, e até camiseta compramos. Havia fila na calçada e japoneses tirando fotos. Então, na semana passada, para minha felicidade, Ricardo Freire me fez negar tudo isso. Que maravilha. Comi todos os contra-argumentos e não guardei nenhum para ele. Mandei, sim, um pacotinho de cenouras sem agrotóxico. Uma delícia. Dizem até que dá para fazer um ótimo bolo.

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