PUBLICIDADE

Obra completa de Erico Verissimo é reeditada

Editora Globo lança este mês o romance Incidente em Antares, primeiro de 38 volumes que serão publicados até 2005, no centenário do escritor

Por Agencia Estado
Atualização:

O escritor gaúcho Erico Verissimo enfrentou um verdadeiro batismo de fogo ao estrear na literatura em 1932: Fantoches, seu primeiro livro de contos, teve uma única edição de 1.500 exemplares, dos quais pouco mais de 400 foram vendidos; os demais, esquecidos em um depósito em Porto Alegre, foram consumidos por um incêndio. "Como os livros estivessem segurados, não houve prejuízo para os editores e o autor ganhou sua comissão sobre cada exemplar vendido, isto é, queimado", ironizou ele, 40 anos depois, quando foi lançada uma edição comemorativa daqueles contos. Nessa época, Erico já desfrutava de uma enorme popularidade - sua obra vendera, até então, mais de 2 milhões de exemplares apenas em português. É justamente essa obra, composta de 38 volumes, que a editora Globo começa a reeditar, a partir deste mês. As negociações com a família do autor demoraram alguns meses, mas terminaram em um acerto. Afinal, era desejo dos familiares (a mulher Mafalda e os filhos Luis Fernando e Clarissa) que os títulos continuassem saindo com o selo da Globo, editora com a qual Erico manteve relacionamento fraterno até sua morte, em 1975, quando faltavam poucos dias para completar 70 anos. O primeiro da fila será Incidente em Antares, romance publicado em 1971 sobre sete mortos insepultos que decidem continuar a viver, uma forma alegórica para o autor discutir a compaixão, paixão, vingança e a mesquinhez de um Brasil que vivia em plena fase ditatorial. Com ao menos um livro reeditado por mês, a Globo pretende lançar a última obra em 2005, quando se completam cem anos do nascimento do escritor. "Será a oportunidade ideal para se comprovar a atualidade da obra de Erico", comenta Maria da Glória Bardini, professora de Teoria da Literatura do curso de pós-graduação da PUC-RS e curadora do Acervo Literário Erico Verissimo, funções que a credenciaram como responsável pelo trabalho de reedição. "Como era autor de uma prosa limpa e elegante, ele mantinha uma fácil comunicação com o público, o que acontece até hoje." Injustiça - Com os livros novamente à disposição, é justamente a linguagem que vai suscitar uma antiga discussão e, espera Maria da Glória, reparar injustiças - assim como Jorge Amado, Erico foi vítima do preconceito contra os grandes escritores brasileiros que utilizam termos mais populares. O próprio escritor incentivou as críticas ao declarar, em entrevista a Clarice Lispector, de que se considerava um autor sem importância, que possuía alguns talentos e sabia como usá-los, principalmente o de saber contar uma história. Irônico, gostava de dizer que era o maior escritor da Rua Felipe de Oliveira, em Porto Alegre - onde morava -, pelo menos enquanto o filho Luis Fernando não se decidisse a tornar-se, também ele, romancista. "Ele era mais que um simples contador de histórias", defende Maria da Glória, que desde 1969 mantém um relacionamento direto com a família de Erico, tendo sido nomeada, em 1982, pela própria viúva do escritor, Mafalda, organizadora de seu acervo. "A sensibilidade com que tratava os mais diversos assuntos era muito sincera e, se reconhecia sua limitação, a fazia de maneira intensa, pois amava a escrita, mas sem arrebatamentos." A pesquisadora lembra que as críticas eram injustas, pois comparavam a obra que Erico construía com as pesquisas de linguagem efetuadas, na época, por João Guimarães Rosa. O próprio escritor gaúcho reconhecia não ter o talento do mineiro, mas sua preocupação não era criar uma nova língua, apenas buscar a clareza e a objetividade. "Mas tanto os momentos de lirismo como os de crítica social foram responsáveis por uma obra única na literatura brasileira", afirma Maria da Glória.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.