"Um filme de Gabriel Figueroa." É muito raro que o nome do fotógrafo se sobreponha ao do diretor, mas muitas vezes era o que acontecia quando o mexicano Figueroa (1907-1997) assumia a direção de fotografia. Tinha uma assinatura visual inimitável. Sua trajetória no cinema é contada nesse belo documentário de Emilio Maillé Miradas Múltiplas - O Universo de Gabriel Figueroa. Para mostrar como esse estilo se impunha, Maillé usou abundantemente trechos de filmes fotografados por Figueroa. E ouviu alguns dos maiores fotógrafos do mundo, entre eles brasileiros como Lula Carvalho e Walter Carvalho, Lauro Escorel, Affonso Beato e Cesar Charlone. E também monstros sagrados como Raoul Coutard, Vittorio Storaro e Giuseppe Rotunno. Eles são unânimes em afirmar a força expressiva das imagens conseguidas por Figueroa, que trabalhou muito com seus conterrâneos Roberto Gavaldon e Emilio "Índio" Fernandes, mas também com gênios com Luis Buñuel (O Anjo Exterminador), John Ford (O Fugitivo) e John Huston (À Sombra do Vulcão). Nota-se no trabalho de Figueroa uma preocupação pictórica muito pensada e consciente. As imagens falam "por si", e não servem de muletas aos diálogos, como acontece. Figueroa tinha consciência da escultura do rosto dos personagens. Por exemplo, fotografou como ninguém o belo e dramático rosto da atriz Maria Félix. Tratava o quadro cinematográfico como um tableau, que precisa expressão e volume para existir. Por isso, ficaram famosas as "nuvens de Figueroa". Gostava dos céus carregados porque são as nuvens que dão volume à imagem. Trabalhava com luz e com sombras e fez do preto e branco seu registro favorito, embora tenha deixado muitos e belos filmes em cores. Figueroa, que esteve na Mostra em 1995 e deu entrevista ao Estado, era expressão top de uma época em que o cinema, mesmo o mais popular, cultivava o apuro visual. Depois veio a era dos blockbusters e tudo virou um pudim, com as exceções de praxe. Figueroa fica como ícone de um tempo em que fotógrafos eram também pintores.