Em algumas ocasiões tenho dito que, provavelmente, somos a última geração letrada. Gostaria de estar equivocado, que o futuro me desmentisse. Ou que descobrisse, descobríssemos formas novas de ler. Se olharmos a história do Brasil podemos detectar três momentos culturais e econômicos relevantes que nos forçam a uma decisão crucial no presente: 1) A febre do ouro e da pedras preciosas ocorreu quando éramos colônia e essa riqueza escoou para os cofres dos dominadores. 2) Tendo perdido essa chance, perdemos também a chance da revolução industrial nos séculos 18 e 19, porque aqui predominava a escravidão, a cultura agrária e a coroa brasileira era apenas cliente dos produtos industrializados europeus.3) Estamos diante da revolução digital. Se perdemos as duas revoluções anteriores, hoje há algumas coincidências: a revolução digital chega com a avassaladora globalização, no momento em que o Brasil autossuficiente de petróleo incorpora outras classes e descobre o pré -sal.Repito, para terminar: o verdadeiro pré-sal é a cultura e/ou a leitura. Os animais, os peixes, as árvores e até as bactérias leem constantemente o mundo antes de tomarem qualquer decisão. Por que o ser humano insiste em andar às cegas no universo da comunicação?AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA É ESCRITOR, EX-PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, CRIADOR DO PROLER (PROGRAMA NACIONAL DE INCENTIVO À LEITURA), DO SISTEMA NACIONAL DE BIBLIOTECAS, E EX-SECRETÁRIO GERAL DA ASSOCIAÇÃO DE BIBLIOTECAS NACIONAIS IBERO AMERICANAS, AUTOR, ENTRE OUTROS, DE SÍSIFO DESCE A MONTANHA (POESIA, ROCCO)