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Múltiplo indivisível

Zé Miguel Wisnik lança quarto CD da carreira e faz nova trilha para o Grupo Corpo

Por Lucas Nobile
Atualização:

Polivalência nunca foi um defeito, mas ainda há quem insista em defender que uma pessoa é incapaz de atuar em diversos campos com extrema excelência. Aos 62 anos - mesmo sem precisar provar mais nada a ninguém -, Zé Miguel Wisnik mostra novamente seus múltiplos talentos, assinando a trilha de Sem Mim, novo espetáculo do Grupo Corpo, e lançando o quarto disco de sua carreira.Produzido por Alê Siqueira, o álbum duplo tem logo em seu título, Indivisível, uma brincadeira com a característica de polivalente de Wisnik. Sujeito vasto, ubíquo, ele é um só, mas tem todo o direito de exercer com maestria os papéis de compositor, letrista, pianista, ensaísta, autor de trilhas para teatro e dança e escritor dos respeitados livros O Som e o Sentido (1989) e Veneno Remédio: O Futebol e o Brasil (2008).Na divisão dos dois discos de Indivisível - com belo projeto gráfico assinado por Elaine Ramos -, um deles tem doze faixas com arranjos mais violonísticos. Já o outro conta com treze temas cujo clima é ditado pelo piano.No primeiro, com o violão de Arthur Nestrovski em todas as faixas, além de musicar poemas de Fernando Pessoa (Tenho Dó das Estrelas), Carlos Drummond de Andrade (Anoitecer), Ludwig Rellstab (com adaptação de Nestrovski), de letrar Serenata, de Franz Schubert, e de fazer uma versão para tema de Henri Salvador e M. Modo (Eu Vi), Wisnik assina parcerias com nomes que dispensam apresentações. Chico Buarque, que participa do disco cantando Embebedado; Jorge Mautner, em Tempo Sem Tempo; Ana Tatit e Zé Tatit, na anti-homofóbica Eva e Adão ou Marchinha da Família; Vadim Nikitin, no samba Sem Fundos; e Nestrovski, em Acalanto. "Foi um disco surgido por encontros. Não só em relação às parcerias, mas também sobre o amadurecimento da interpretação das canções. O Sergio Reze (bateria e percussão) mora aqui na rua de cima. Tem uma sala de ensaios muito boa na casa dele e não teve aquela coisa de os músicos chegarem no estúdio, aprenderem a música na hora para gravar. As músicas atingiram uma certa maturidade para serem gravadas", conta Wisnik, que também gravou temas de autoria só sua, como o grande destaque do disco, o samba Errei com Você, A Serpente, Presente e Sócrates Brasileiro, em homenagem ao ex-craque, sendo uma das faixas que contam com o violão de 7 cordas de Swami Junior.No outro disco, desenhado pelo piano, destaque para as parcerias de Wisnik com Guinga (Ilusão Real e Canção Necessária, esta uma "resposta" a Canção Desnecessária, de Guinga com Mauro Aguiar), Alice Ruiz (Dois em Um), Luiz Tatit (Tristeza do Zé), o próprio Mauro Aguiar (Nossa Canção) e Marcelo Jeneci (O Primeiro Fole e Feito Pra Acabar, que batiza o primeiro disco do pianista e acordeonista).Questionado sobre o fato de gravar em sua voz temas seus anteriormente gravados por nomes como Maria Bethânia (Cacilda), Gal Costa (Embebedado), Elza Soares e Zélia Duncan (Presente) e Mônica Salmaso (Mortal Loucura), Wisnik responde: "Eu sempre aprendo muito quando vejo grandes intérpretes gravando no estúdio, sempre absorvo algo de bom. Como compositor, quando eu gravo as minhas músicas é um depoimento meu que está ali".Trilha do Corpo. Não menos digna de nota é a trilha de Wisnik para o novo espetáculo do Grupo Corpo, Sem Mim. Ao lado de Carlos Núñez, com extenso trabalho de pesquisa, o compositor teve como ponto de partida canções de Martín Codax, do século 13. "Tínhamos a intenção de trabalhar sobre essas canções em uma faixa de 15 minutos para o disco do Carlos Núñez, Alborada do Brasil, mas ela acabou ficando de fora do álbum. No fim das contas, a ideia se desenvolveu em 50 minutos para a trilha do espetáculo", diz Wisnik.

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