Morre o produtor cultural Luiz Carlos Miele, aos 77 anos

Ele teve um mal súbito e morreu em sua casa na Gávea, na Zona Sul do Rio

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Por Carina Bacelar
Atualização:

(ATUALIZADA ÀS 21h54)

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RIO - Foi encontrado morto na manhã de ontem, por volta de 8h, o produtor, ator e diretor Luiz Carlos Miele, aos 77 anos. A causa da morte do artista ainda não foi determinada. Sabe-se que ele passou mal e foi achado pela mulher, Anita, caído no escritório da residência do casal, em São Conrado, na zona sul do Rio. Anita acionou o Corpo de Bombeiros. Quando a equipe chegou ao endereço, Miele já estava sem vida.

O velório do artista está marcado para começar às 7h de hoje na Câmara de Vereadores do Rio, no centro. O sepultamento será às 16h no Cemitério do Caju, na zona norte. Parentes acreditam que ele foi vitimado por um infarto fulminante. A morte de Miele, torcedor do Fluminense, surpreendeu os amigos. Todos contam que, apesar da idade, ele não aparentava ter problemas de saúde.

Luiz Carlos Miele, em São Paulo, em dezembro de 2013. FOTO DENISE ANDRADE/ESTADÃO Foto: Luiz Carlos Miele, em São Paulo, em dezembro de 2013. FOTO DENISE ANDRADE/ESTADÃO

O hábito de beber uísque,  mantido havia décadas, o produtor não fazia questão de largar. Na noite anterior à morte, ele saíra para jantar. À assessora Vânia Barbosa, com quem conversara naquela noite, disse que estava bem. “Ele saiu com amigos e com a mulher para jantar. De manhã, ela acordou cedo e não o viu na cama. Foi até o escritório e encontrou-o caído no chão. Me ligaram. Quando eu cheguei os bombeiros já estavam aqui”, relatou.

Os bombeiros encontraram Anita deitada ao lado do marido, muito abalada. Era no escritório que Miele costumava beber seu uísque. “Ele deitou e apagou. Morreu como os bons morrem”, disse o cartunista Ziraldo, que esteve na casa logo após receber a notícia da morte. Para Ziraldo, Miele “morreu muito feliz”.

“Miele era igual a um boi, não sabia a força que tinha. Não sabia que ele era o Miele. Não tem ninguém que chegue aos pés dele. Miele sabia tudo de showbizz e continuava a vida toda como um provinciano. Ele achava que ainda tinha que ser aceito. Ele ficou no ostracismo algum tempo e, nesses últimos anos, estava no melhor momento da vida dele. Estava muito bem, muito realizado”, afirmou o cartunista.

Segundo o diretor teatral Claudio Botelho, amigo com quem Miele trabalhara em 2012 no musical “O Mágico de Oz”, intepretando o personagem-título, o produtor musical sonhava, nos últimos anos, em contar a própria vida em um espetáculo. Seria “Um musical chamado Miele”.

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“Ele queria muito fazer um musical onde contasse as histórias dele e também cantasse, meio de improviso. A gente chegou a conversar algumas vezes. Mas aí ‘O Mágico’ veio na frente”, disse Claudio.

Botelho, diretor de vários musicais adaptados da Broadway, lembra que Miele era um grande conhecedor das produções teatrais norte-americanas. Por isso, ao estrelar seu primeiro musical inspirado na  Broadway, depois de atuar e dirigir tantas outras produções, demonstrava empolgação de iniciante.

“Durante o processo, Miele era um pinto no lixo. Chorava em todos os ensaios quando acabavam, porque considerava uma estreia dele. Era um mundo que ele amava, o mundo da Broadway. Ele sabia tudo dos grande musicais.” Os ensaios, lembra o diretor, só começavam depois que Botelho terminava as longas conversas mantidas com Miele. Mesmo assim, ainda havia assunto para um bar, com pizza (e uísque duplo para Miele), depois das atividades no palco.

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A atriz Marília Pera, dirigida por Miele no programa “Viva Marília” (1972), na TV Globo, não recorda de um episódio em que o diretor tenha se aborrecido no set. “Miele era o riso, a gargalhada, o deboche. O não acreditar em si mesmo, não se levar a sério. Sempre o vi descontraído e bem humorado. Espero que essa passagem dele tenha sido como a vida dele foi: leve”, disse Marília, que lembra o jeito curioso com o qual o diretor dançava, “com uma certa bossa”, estalando os dedos polegares. “Tomara que entre assim no céu, cheio de bossa.”

A cantora Miúcha, que teve shows produzidos por Miele, conta que o amigo tinha o domínio do que funcionava ou não sobre um palco. “Ele tinha o timing de como era uma apresentação. Era um homem de palco. Nos divertíamos muito com ele, de todas as maneiras. Sempre estava ao lado da gente, sempre muito amigo de todo mundo. Vai ser difícil encontrar alguém com tanta disposição para a vida”, afirmou ela.

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