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Retratos e relatos do cotidiano

Minha mãe é como uma árvore

Toda árvore é sábia e minha mãe é o ser mais sábio que a vida me apresentou

Por Ruth Manus
Atualização:

Minha mãe é como uma árvore. Porque toda árvore é sábia e minha mãe é o ser mais sábio que a vida me apresentou. Árvores nunca são mesquinhas, árvores nunca são medrosas, árvores nunca são hipócritas. Minha mãe é exatamente como as árvores.

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Minha mãe é como uma árvore: raízes fortes, raízes fundas. Minha mãe me liga ao solo, me conecta à terra e nunca permite que eu me perca pelas estradas da vida. Minha mãe sempre me diz para onde voltar, mesmo quando não me fala nada. Minha mãe é a raiz que me ampara, onde quer que eu esteja.

Minha mãe é como uma árvore, porque toda árvore é lar. Lar de um joão de barro, de centenas de formigas, de corujas tímidas, de besouros desnorteados, de maritacas alegres. Minha mãe é lar. É o meu lar. Lar de tantos outros, que, por vezes, nem o merecem.

Talvez eu mesma não o mereça. Talvez os presentes que eu lhe dê nunca alcancem, nem de longe, o valor do aluguel pelo lar mais precioso do mundo.

Minha mãe é como uma árvore, porque o vento não a derruba. Porque ela já enfrentou vendavais e tempestades, mas sempre se manteve de pé. Firme. Sóbria. Sólida. Minha mãe, assim como as árvores, nunca derrubou ninguém para permanecer de pé. Toda sua força é genuína.

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Minha mãe é como uma árvore. Árvores transformam gás carbônico em oxigênio. Minha mãe transforma minha angústia em serenidade. Meus medos em coragem. Minhas dúvidas em clareza. Meus pecados em lições. Meus erros em oportunidades. Meus arrependimentos em aprendizados. Minha mãe me transforma no melhor que eu posso ser.

Minha mãe é como uma árvore. Porque árvores se transformam. Perdem suas folhas, ganham folhas novas, folhas que crescem, folhas que ficam verdes, folhas que ficam amareladas, secas e cansadas até cair. Árvores se regeneram. E minha mãe sempre foi meu maior exemplo de cicatrização, de renascimento e de persistência.

Minha mãe é como uma árvore. Minha mãe é meu abrigo. Abrigo para os dias de chuva, para as tormentas, para os temporais. Porque debaixo dela eu estou segura em dias de chuva forte, embora ela permita que eu me molhe um pouco com as gotas brutas que deslizam entre seus galhos, me mostrando ser vulnerável, impedindo que eu, embora protegida, me torne dependente.

Minha mãe é como uma árvore. Minha mãe é meu abrigo. Abrigo para os dias de sol excessivo, para os dias de calor em exagero, de moleza nas pernas. Porque debaixo dela há a sombra tão procurada, o oásis tão esperado, a brisa fresca que eu nem mesmo tinha esperanças de encontrar. Mas, mesmo embaixo dela, ela permite que os raios queimem minha pele, como quem diz “eu não estarei sempre aqui para te proteger, aprenda a cuidar-se sozinha”.

Minha mãe é como uma árvore. O marrom da sua solidez mistura-se com o verde da sua esperança. Acreditava que só as árvores harmonizavam características pouco prováveis num mesmo ser. Força e delicadeza, rigidez e flexibilidade, vulnerabilidade e imponência.

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Minha mãe é como uma árvore. Nunca precisou de ruídos para impor respeito. Respeitam-na, simplesmente, por ser quem é, em silêncio. Por ter brotado, persistido e vigorado em meio a tantas dúvidas sobre sua capacidade de permanecer ereta. Minha mãe impõe tanto respeito quanto a maior sequoia do mundo. E eu, mais do que qualquer coisa, a respeito tanto quanto respeito as árvores do meu caminho.

Minha mãe é como uma árvore. Uma árvore que deu muitos frutos. Uma árvore que deu muitos frutos e muitas flores. Não sei se sou seu fruto ou sua flor. Ou se sou apenas um pássaro sortudo que se abrigou ali há 28 anos e nunca mais soube ir embora. Não sei. Só sei que sou grata pela sua existência tão larga. Por me aproximar do céu e por me aproximar da terra. Por permitir que eu permaneça e por saber que ela nunca irá embora, mesmo no dia em que for.

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