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Miguel Rio Branco enfatiza conexões da fotografia com outras áreas

Na mostra ‘Teoria da Cor’, o artista consagrado faz uma ode à pintura

Por Camila Molina
Atualização:

Sobrepõem-se camadas na instalação Entre os Olhos o Deserto (1997), de Miguel Rio Branco. Imagens são projetadas em uma sala ao som da Gymnopédie n.º 1, de Erik Satie, criando uma composição fugidia e triste sobre paredes construídas e objetos como radiadores, uma roda de ferro e peças escultóricas. "As pessoas têm uma tendência de me levar para a fotografia, quando, na verdade, comecei com a pintura", diz o artista.

Desconfortável, ele cita o cinema como outro meio importantíssimo em sua produção, desde a década de 1960. Há um "sentido de construção, de edição", afirma Miguel Rio Branco, que perpassa todo seu trabalho. Sua obra se faz de conexões entre várias áreas. E é essa característica que toma a dianteira da mostra Teoria da Cor, que ele inaugura no sábado, 26, a partir das 11 horas, na Estação Pinacoteca.

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Telas, fotografias, assemblages, imagens repintadas, instalações – algumas, já históricas como Diálogos com Amaú (1983), sobre um índio surdo-mudo, e Negativo Sujo (1978) – ocupam todo um andar do museu, mas o artista não considera que se trate de uma exposição retrospectiva. Para falar sobre seu trabalho, Miguel Rio Branco gosta de lembrar uma história dos anos 1980, quando realizou uma pequena exposição na galeria da agência Magnum, em Paris. Na ocasião, conta, o fotógrafo norte-americano Dennis Stock viu suas obras e afirmou: "Seu problema é que você quer fazer música com fotografia". "Para mim, foi um grande elogio. Porque há a questão das variações no meu trabalho, dar uma dinâmica entre as imagens, que é mais importante que as imagens somente."

Outra instalação, Out of Nowhere, é justamente a expressão dessa ideia. Obra pontual, está em uma das primeiras salas da exposição do artista na Estação Pinacoteca porque reúne os vários sentidos de sua poética.

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A atmosfera sombria domina o espaço com imagens do universo característico da produção de Miguel Rio Branco – fotografias do mundo do boxe, de mulheres da zona do meretrício, por exemplo – pregadas sobre pedaços de pano preto. Elas formam conjuntos de composições de raiz pictórica no espaço, mas há ainda espelhos aos pés dessas espécies de painéis.

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"Out of Nowhere foi feito para a Bienal de Havana de 1994. É um trabalho que tem toda a questão de não ter a fotografia ligada a um tema ou a um tempo", afirma Miguel Rio Branco. "Os espelhos têm uma relação com o tempo e na primeira versão, eram os achados em Havana", conta o artista, chamando a atenção para o fato de a obra, também com trilha sonora e com luz rebaixada, ter seu sentido completado pelo movimento do espectador pela sala.

É verdade que o vermelho predomina na entrada da exposição, mas Teoria da Cor – título homônimo dado pelo artista Matheus Rocha Pitta a uma fotografia de Rio Branco de um bambolê colorido numa composição terrosa – não é apenas uma ode à pintura (apesar de se ver claramente a vontade de pontuá-la como vertente fundamental para o artista). Com curadoria do próprio Miguel Rio Branco, a mostra vai "costurando" um percurso "dinâmico".

As imagens são sempre fortes em seu trabalho – um insatisfeito e crítico por natureza (Dog Man é um díptico que coloca um mendigo e um cachorro com um cachorro doente lado a lado). Diálogos com Amaú (um dos destaques do pavilhão dedicado ao artista no Instituto Inhotim) é uma obra sobre "invasões da sociedade" e um sentido de indignação vai perpassando a exposição. E não fica apenas em São Paulo, como está no Rio também, onde ele retoma a instalação Gritos Surdos em mostra na Casa França-Brasil. "É um trabalho sobre poder, conectado com a opressão e com a morte", diz Miguel Rio Branco, que também lançará este ano, pela editora Cosac Naify, o livro Maldicidades.

MIGUEL RIO BRANCOEstação Pinacoteca. Lgo. General Osório, 66, Centro, 3335-4990. 3ª a dom., 10 h/17h30. R$ 6 (grátis, 5ª após 17 h e sáb.). Até 19/7.

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