PUBLICIDADE

Memorial de poeta Cassiano Ricardo causa polêmica

Projeto em homenagem ao artista envolve duas cidades do Vale do Paraíba e a família do modernista

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA - Um projeto que homenagearia o poeta modernista Cassiano Ricardo com a construção de um memorial transformou-se em polêmica envolvendo as prefeituras de duas cidades do Vale do Paraíba, interior de São Paulo, e familiares do homenageado. O memorial, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer em 2000, seria construído em São José dos Campos, terra natal de Cassiano Ricardo, mas acabou engavetado por falta de recursos.+++ Manuscrito revela mudança na obra de Cassiano Ricardo Em julho, atendendo a um pedido do prefeito daquela cidade, Fernando Borges (PV), a administração de São José cedeu as cópias do projeto à prefeitura de Caçapava para que o memorial seja construído na cidade vizinha. “A prefeitura (de São José dos Campos) entende que o poeta Cassiano Ricardo, que nasceu em terras joseenses, pode e deve ser homenageado regional e nacionalmente”, justificou em nota.

Niemeyer. Esboços do arquiteto Foto: Regina Célia Ricardo Gianesella

A neta de Cassiano Ricardo, Regina Célia Ricardo Gianesella, não aceita o memorial em outra cidade porque contraria disposição expressa do homenageado. “Existe uma carta do meu avô dizendo que ele queria descansar em São José dos Campos. Ele pode ser homenageado em outra cidade, como é em Goiânia, onde tem um centro cultural, e em outros países, como a França. Agora, não tem cabimento fazer o memorial dele, com o depósito de suas cinzas, em outra cidade que não seja sua terra natal.” A prefeitura informou ter pago R$ 46,2 mil (valor da época) pelo projeto, encomendado a Niemeyer na gestão do ex-prefeito Emanuel Fernandes (PSDB). Num primeiro momento, pensou-se em erguer o monumento na Avenida Cassiano Ricardo, no Jardim Aquarius, onde chegou a ser lançada uma pedra fundamental. Na época, a obra ficaria em R$ 1,2 milhão, mas a prefeitura não deu sequência, alegando falta de dinheiro. A proposta foi retomada na gestão de Eduardo Cury (PSDB), mas também não seguiu adiante e foi parar na gaveta. No dia 6 de julho, o prefeito de Caçapava enviou ofício ao colega de São José, Felício Ramuth (PSDB), pedindo os estudos e documentos de Niemeyer sobre o Memorial e manifestando a intenção de “desenvolver um plano estratégico para angariar recursos para a construção do espaço em nosso município”. O secretário da Cultura de Caçapava, Fabricio Correia, informou que o passo seguinte seria pedir o apoio da ABL ao projeto. Correia fazia parte da equipe de planejamento da Fundação Cultural Cassiano Ricardo na época em que o projeto foi encomendado a Niemeyer. Ele tratou do assunto em audiência na ABL, no Rio, em 31 de outubro.

Monumento aos Mártires, em Argel Foto: Beto Barata/Estadão

A neta do poeta garante que as cinzas do avô não saem do mausoléu da ABL para outro local que não seja São José dos Campos. “Essa doação (para Caçapava) foi feita sem consulta a ninguém da família. Andei pedindo os estudos à prefeitura para fazer um projeto cultural e obter apoio financeiro através das leis de incentivo à cultura, mas não houve resposta. Agora, soubemos pela imprensa que o projeto foi doado. Quando estivemos na abertura da Semana Cassiano Ricardo, em São José, em outubro, o projeto já tinha sido doado e não se tocou no assunto.” Regina Célia disse que ela e um primo advogado, também neto do poeta, estudam ingressar com medida para que o Ministério Público Estadual entre no caso. “Estamos analisando as bases jurídicas para isso.” O projeto concebido por Niemeyer prevê um hall de entrada, auditório/teatro para 100 pessoas, biblioteca com reserva técnica, museu, mausoléu e sala de exposições, além de área de serviços. Na entrada, uma coluna em espiral teria uma escultura do poeta. Procurada pela reportagem, a prefeitura de Caçapava não se manifestou.QUEM É CASSIANO RICARDO? ESCRITOR Nasceu em São José dos Campos em 1895, iniciou os estudos jurídicos em São Paulo, onde também exerceu a profissão de jornalista, e concluiu o curso de Direito no Rio. À época da Semana de Arte Moderna, fundou, com Menotti del Picchia e Plínio Salgado, o movimento Verde-Amarelo (1926), transformado mais tarde em Grupo da Anta, também de cunho nacionalista. Após divergências com Plínio Salgado, fundou o Grupo da Bandeira (1928), com Del Picchia e Cândido Motta Filho. Morreu no Rio, em 1974.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.