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Macklemore sabe onde pisa em novo disco

Nova parceria do rapper com Ryan Lewis, ‘This Unruly Mess I’ve Made’, mostra o MC aprendendo a lidar com o sucesso global – na marra

Por Guilherme Sobota
Atualização:

O rap vai bem na América, obrigado – o sucesso de público e crítica dos últimos álbuns de Kendrick Lamar (especialmente To Pimp a Butterfly, de 2015), Vince Staples e Earl Sweatshirt são exemplos de como o gênero ressoa, ainda necessário e vibrante, no século 21. Mesmo antes da morte recente do rapper Phife Dawg, aos 45 anos, o A Tribe Called Quest – grupo pioneiro do rap alternativo dos anos 1980 – vinha ocupando o noticiário com reuniões e encontros na TV. Straight Outta Compton, o filme sobre a criação do N.W.A., apesar de ter sido praticamente ignorado no Oscar, foi muito bem nas bilheterias nos EUA.

Quem aproveita o bom momento, agora, é o rapper Ben Haggerty, mais conhecido como Macklemore, cujo álbum de estreia em parceria com Ryan Lewis, The Heist, levou o Grammy de melhor disco de rap em 2013, batendo justamente Kendrick Lamar e o seu good kid, m.A.A.d city, um disco tão poderoso quanto To Pimp a Butterfly. A notícia caiu com tanta força no colo de Macklemore – um rapaz branco e classe média de Seattle – que ele chegou a postar um pedido de desculpas no Instagram (que depois foi denominado como “desnecessário”), e agora, This Unruly Mess I’ve Made, transforma em canções esse sentimento de culpa.

Duo. Macklemore, à direita, e o produtor e DJ Ryan Lewis Foto: Ben Rayner|The New York Times

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A questão é a mesma que foi levantada quando Same Love, do primeiro álbum do duo, virou hit, advogando pela ideia de que “ser gay é ok” – claro que é, mas ele foi questionado se era mesmo preciso esclarecer um ponto tão claro. Agora, ele se volta para o seu “white privilege”.

A primeira canção, Light Tunnels, descreve com certo pesar o próprio indo a uma cerimônia de premiação, levando o troféu e dizendo: “eu não gosto de quem eu sou neste ambiente, e esqueci para que a arte serve”. Em Brad Pitt’s Cousin, ele abraça um lado humorístico (“meu gato nem mesmo faz rap, mas tem mais seguidores do que você”) mais ou menos inocente.

Mas é o fecho do disco, White Privilege II, que tem a mensagem mais direta. “Você explorou e roubou a música / a cultura que nunca precisou de você”, ele canta e discute, com uma sinceridade que pode também parecer inocente, o lugar do branco – um rapper branco – no debate e na luta contra o racismo. A comovente sinceridade faz o claro intuito pop do disco valer a pena.

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