Luiz Melodia apresenta show 'saudosista' em SP

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Por Pedro Henrique França
Atualização:

Homenagear o pai, Oswaldo Melodia, e reviver momentos de sua infância no morro de São Carlos, no Estácio (entre o centro e a zona norte carioca), permeada por ouvidos atentos ao rádio para sambas de Cartola, Noel Rosa, Jamelão e Geraldo Pereira. É o que Luiz Melodia queria e conseguiu concretizar em Estação Melodia, lançado em julho pela Biscoito Fino. O cantor e compositor carioca focou também sua veia intérprete - o CD traz apenas uma sua, Nós Dois, em parceria com Renato Piau. "Gravar samba dos anos 40 era uma vontade que já tinha há algum tempo. E aconteceu a oportunidade", conta ele. Foi o resgate desse passado que Melodia buscou no disco todo dedicado ao pai. Compositor de Maura, gravada por Luiz em 1991, quando já havia falecido, Oswaldo aparece na voz do filho em duas canções: Não Me Quebre à Toa e Linda Tereza. "Dedico esse disco todo a meu pai, com os dois sambas dele. Ele era louco pra gravar alguma coisa comigo, o que acabou não acontecendo, porque ele faleceu. E é aquela coisa, você idealiza que os pais vão viver para sempre, mas não é assim", diz, emocionado. Pois é com sambas antigos, como Tive Sim, de Cartola, e, claro, alguns sucessos da carreira, que Luiz Melodia chega a São Paulo para mostrar aos paulistanos seu timbre e gingado no Teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros, em temporada que começa hoje e segue até domingo. "Basicamente o show é samba, tem algumas do meu repertório e outras de Zé Ketti, além de uma de Chico Buarque, que eu não vou contar qual é", afirma, provocando suspense. Nesse clima saudosista, Luiz Melodia relata ainda a decepção pelo fato de o morro carioca onde foi criado ter sido dominado pelo tráfico, em um clima bem diferente da sua infância. "Hoje lá não está flor que se cheire. Têm famílias que vivem, que trabalham, mas tem o tráfico que envolve o Rio de uma forma geral, em todas as favelas, e que não é agradável pra ninguém", afirma ele, que vivenciou uma situação constrangedora recentemente quando foi a São Carlos. "Fomos lá fazer uma filmagem rápida, e fomos surpreendidos com pessoas de armas na mão. Tivemos de pedir autorização aos chefes do tráfico e fomos liberados. Mas é muito chato ser criado em um lugar onde hoje você não pode mais subir e descer", diz. E confidencia: "Queria tanto, e quero ainda, ser uma referência musical do lugar onde nasci". Lamentos à parte, Luiz Melodia revela seus próximos passos musicais. Autor de grandes pérolas da MPB, como Estação, Holly Estácio e Pérola Negra, ele agora pretende passear no hip hop, em parceria com seu primogênito Mahal. "Penso em fazer algo com o pessoal do hip hop, com meu filho, quero fazer um CD com essa rapaziada. Essa é a minha idéia: ir do samba dos anos 40 ao hip hop", declara. Luiz Melodia. Teatro Paulo Autran - Sesc Pinheiros. Rua Paes Leme, 195, tel. (11) 3095-9400. Hoje e domingo, às 18h, e sábado, às 21h. R$ 30,00.

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