Lobo na Idade Média. Conheça outros livros de Janaina Tokitaka

Janaina Tokitaka vai buscar as origens do lobisomem para recriar sua lenda

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Por BIA REIS
Atualização:

O pincel embebido na aquarela toca o papel e o desenhista faz um movimento intencional. Depois, cabe ao acaso definir os caminhos que as cores percorrerão. Elas se esparramam, então, pela folha, deixando umas áreas escuras, outras mais claras. O pincel volta à aquarela e, inesperadamente, os tons se misturam e criam, muitas vezes, o que nem o autor pensou em inventar.É com essa técnica, que mistura a intenção com o imprevisível, que a escritora e ilustradora Janaina Tokitaka vai compondo a sua história. Formada em Artes Plásticas pela Universidade de São Paulo (USP), Janaina, de 26 anos, mergulhou cedo no mundo das ilustrações. "Era daquelas crianças que preenchiam o caderno de desenho na praia", se diverte ao lembrar.Em seus livros para crianças e adolescentes, Janaina mescla aquarela com outras técnicas. Para criar a atmosfera de medo e suspense em O Lobo do Centeio, ela usou guache, grafite e nanquim. A obra - a sétima que escreve e ilustra - é difícil de ser definida. Mistura de história em quadrinhos com livro-imagem. "Essa indefinição me incomodava, mas já fiz as pazes com a indecisão do livro."Nesta releitura da história do lobisomem, a escritora retoma a lenda em sua forma mais tradicional, mantendo aspectos bem conhecidos, como o foco no gênero masculino e a influência da lua cheia, e outros existentes em versões arcaicas que foram sendo abandonados com o passar do tempo. "Fui atrás de pedacinhos, de fragmentos. Encontrei a narrativa de uma praga que deu num campo de centeio na Idade Média, o caso de um lobo que atacou um vilarejo. A imagem que temos hoje do lobisomem é de uma pessoa que sofreu uma maldição. Mas descrevo mais um demônio do que um ser humano, uma coisa ligada ao lado selvagem na natureza, do perigo."As cores acompanham o desenrolar da história. Conforme a maldição toma conta do vilarejo, o verde claro vai sumindo, dando lugar a tons mais escuros, ao cinza, ao preto. O texto é conciso, preciso, mas não simplista. "É a linguagem dos quadrinhos, mais próxima da do cinema."Janaina tem preocupação estética com as palavras, com o ritmo. Ela leva o leitor para dentro do texto, provoca sensações. "O vilarejo cheirava permanentemente a centeio - um aroma maltado e ensolarado que se impregnava na roupa dos homens que vinham da lavoura e na pele das mulheres que assavam pães e fermentavam a cerveja. Até as crianças pareciam feitas do cereal depois de rolarem pelos montes feitos de grãos, seus cabelos finos embaraçados pelas hastes da planta", conta, logo no início da narrativa.Para Janaina, a descrição sensorial ajuda a envolver o leitor. "Ele precisa se sentir dentro da história para que ela possa tocá-lo."

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