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Leia poemas de Adelia Prado

Depois de três anos, Adélia Prado retorna à poesia com ‘Miserere'. O livro traz 38 poemas, em que a maior poeta brasileira viva (ao lado de Gullar e Manoel de Barros) tanto flerta com a metafísica como se atém aos detalhes do cotidiano, mas, acima de tudo, aposta na grandeza das pequenas coisas. E, como não poderia ser diferente, sua poesia estabelece um diálogo com Deus, uma ponte com a transcendência e uma crença na perenidade da carne e na eternidade da alma.

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Por Redação
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Leia alguns deles a seguir:

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"Eu sou uma mulher sem nenhum meleu não tenho um colírio nem um chátanto a rosa de seda sobre o murominha raiz comendo esterco e chão.Quero a macia flor desabrochadairado polvo cego é meu carinho.Eu quero ser chamada rosa e floreu vou gerar um cacto sem espinho."(Senha)

"A Bíblia, às vezes, não me leva em conta,tão dura com minha gula.Nem me adiantou envelhecer,partes de mim seguem adolescentes,estranhando privilégios.Nunca me senti moradora,a sensação é de exílio.Criancinha de peito, essa já sabe,seu olhar muda quando desmamada.Tudo é igual a tudo,mas por agora a unidade nos cega,daí o múltiplo e suas distrações.Deus sabe o que fez.Mesmo com medo escrevoque é 1º de julho de 2011.Parece póstumo, parece sonho.Alguma coisa não muda,minha fraqueza me põe no caminho certo.Deus nunca me abandonou."(Sala de Espera)"Os peixes me olhamde suas postas sangrentas.Falta modéstia às frutas.De ponta a ponta, barracas,quero fugir daliacossada pelos tomatesde inadequado esplendor.Compro dois nabos para comê-los crus,feito um eremita em sua horta.Não por virtude,por orgulho talvez travestido do júbiloque me vendeu o diaboem sua tenda de enganos."(Feira de São Tanaz)

"A Deus entrego meus pecados,entrego-os a quem pertencem,não a Satanás que é um dos nossose sofre também o tormento dos filhosque têm o Pai ocupado em alimentar pardais.Nem torres que tocam a lua,ou o que quer que nos roube o fôlego,fazem assomar Seu rosto.Por que nos abandonastes?Vosso Filho soube, na obediência da morte,e o que se viu foi só um tremor rasgando a pele da terra.Alguém no derradeiro instante exclamou Oh! Oh!E fechou os olhos.Eu não tenho aonde ir, tudo me ignora,ignoro tudo, pois sou natureza.Um beija-flor enfia numa flor natalinao seu bico comprido e come e bebe e voa,não pousa no meu ombro,não bebe do meu olho a água de sal.Por agora, o que me faz prosseguiré sua indiferença. Esta ausência de milagre."(Lápide para Steve Jobs)

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