Jovens músicos brasileiros buscam fama longe do País

Procura de fortuna e diversão no exterior estimula rapazes como o guitarrista Rafael Moreira

PUBLICIDADE

Por Marco Bezzi e do Jornal da Tarde
Atualização:

De repente a vida real bate à porta de todo roqueiro nascido no Brasil. É aquele momento em que o sonho com o topo da parada da Billboard se dilui em utopia. Fazer turnês milionárias e conhecer celebridades internacionais então, nem pensar. Mesmo assim, antes de trancar a guitarra no case e voltar a ganhar a vida com trabalho "sério", três músicos daqui decidiram arriscar a vida nos EUA... e se deram bem.   A idéia de participar do mainstream norte-americano - que parecia inatingível há pouco tempo - hoje virou realidade na vida de Rafael Moreira, Renato Neto e Grecco Buratto. Moreira toca com Paul Stanley, Neto está com Prince há seis anos e Grecco presta serviço atualmente para o chico-latino Enrique Iglesias. Músicos diferentes, trajetórias semelhantes. "Vim aos EUA para estudar e produzir trilhas de cinema", fala o tecladista Neto. "Acabei parando em um talk-show chamado The Wayne Brady Show e em 2001 acabei conhecendo a baixista do Prince. Ela me indicou para fazer uma sessão com ele e acabei ficando fixo na sua banda até hoje."   A mesma fixação teve o guitarrista Rafael Moreira, que, além de ter o vocalista do Kiss, Paul Stanley, no currículo, tocou por quatro anos com Pink e começou sua vida de contratado através de Christina Aguilera. Moreira, de 32 anos, saiu do País para estudar no conceituado instituto musical GIT, na Califórnia.   'Entrei para a Christina através de um teste, com uma centena de guitarristas. Meus primeiros shows foram uma prova de fogo: Saturday Night Live e o Madison Square Garden', lembra Moreira. Mesmo crescendo com AC/DC e Black Sabbath na orelha, enfrentou o desafio. "O som dela era bem eclético. Tinha de fazer solo de flamenco. É importante você tocar nesse nível para aparecer", explica.   Uma nova virada ocorreu quando recebeu o convite para ser o guitarrista do programa Rockstar: Supernova. A segunda temporada, em 2006, escolhia um vocalista para uma banda que tinha em sua formação Tommy Lee (ex-Mõtley Crüe), Jason Newsted (ex-Metallica) e Gilby Clark (ex-Guns N' Roses). Paul Stanley, com novo trabalho-solo no momento, se apaixonou pela banda de Moreira (a House Band) e os chamou para participar da turnê.   "Já tive a oportunidade de dividir o palco com o Steven Tyler (vocalista do Aerosmith), de participar de festas com George Benson e Heidi Klum, mas tocar com o Paul Stanley foi um sonho realizado. Comecei na guitarra por causa do Kiss", diz, empolgado. Moreira diz que Stanley pretende tocar no Brasil ainda este ano. A abertura dos shows seria de seu projeto-solo, de nome Magnetico.   Jam com Prince   A vida de festas, viagens em jatos particulares e hotéis de luxo, marca registrada das estrelas, também é oferecida para quem é músico contratado. Sobre salário, eles preferem não abrir o jogo. "Um músico pode ganhar entre US$ 2.500 e US$ 20 mil por semana", confunde Moreira. "Um cara que toca com o Paul McCartney ou o Elton John chega a ganhar US$ 500 mil por ano."   O itinerário também costuma ser atrativo. Quando falou com o Estado, o guitarrista Grecco Buratto estava em Malta. De lá partiria para Ibiza, depois Canadá, México e de volta à Europa. Tudo isso para trabalhar com Enrique Iglesias. "No ano passado, fiz um comercial da Gap com a Joss Stone que foi divertidíssimo", afirma.   Já Prince, um dos mais excêntricos da música pop, tem a admiração de Neto não apenas por ser uma estrela. "A diferença entre ele e outros artistas com quem trabalhei é que o Prince sabe tocar, é um excelente músico. Por essa razão, estou com ele até agora." Mais do que se apresentar no palco, Prince tem um ritual: após cada show, gosta de fazer uma jam de duas horas em festas ou pequenos bares. "Tocamos desde a música dele até jazz e improvisações", anima-se Neto.   Nos camarins   RAFAEL MOREIRA: nascido em Cambará (Paraná), o guitarrista foi para os EUA aos 21 anos para estudar. Em 2000, após passar por um teste com cerca de 100 músicos, tocou com Christina Aguilera e gravou o DVD My Reflection. Depois, entrou para a banda da cantora Pink e ficou por lá durante quatro anos. "Somos muito amigos. Íamos a todas as festas juntos. Em uma, do Lenny Kravitz, bebemos todas, arrumamos uma baita briga e destruímos o nosso ônibus. Poderia escrever um livro com essas histórias." Com a visibilidade no reality Rockstar, foi chamado por Paul Stanley (Kiss) para participar de sua turnê, no final do ano passado. Morador de LA, recusou convites de Chris Cornell e Nelly Furtado, pois não vê a hora de lançar o disco da sua banda Magnetico.   RENATO NETO: paulistano, o tecladista, 41 anos, mudou-se para os EUA aos 26 para estudar trilha de cinema. Lá, tocou com o maestro Moacir Santos. Quando fazia parte da banda do Wayne Brady Show, conheceu a baixista de Prince e foi indicado por ela a uma audição com o músico. Em 2001 saiu com Prince na turnê One Night Alone. "Quando cheguei, ele me parecia desanimado, sem vontade de tocar. Me chamou, pois queria alguém com uma pegada mais jazz." Durante os anos em Los Angeles, gravou com Justin Timberlake e Stevie Wonder e co-produziu o álbum de Rod Stewart, The Great American Songbook. Atualmente, está na Europa para uma turnê de 21 shows com Prince. "O assédio da mulherada era pior na época em que toquei no Kid Abelha, na década de 1980."   GRECCO BURATTO: o guitarrista está atualmente em turnê promocional com Enrique Iglesias na Europa. Nasceu em Caxias do Sul há trinta anos e foi para os Estados Unidos aos 18. Lá, tocou com Sergio Mendes, Macy Gray, India Arie, Joss Stone, Boyz II Men e Airto Moreira, entre outros. Quer lançar seu disco solo em 2008 - todo em português - calcado na MPB.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.