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Jornada de Cinema da Bahia consagra documentário 'Batatinha'

Já o Prêmio Glauber Rocha fica com o curta-metragem espanhol 'Nasija', do diretor canário Guillermo Rios

Por Maria do Rosário Caetano
Atualização:

O curta-metragem espanhol Nasija, do diretor canário Guillermo Rios, conquistou o Prêmio Glauber Rocha de melhor filme da 34.ª Jornada de Cinema da Bahia. O Prêmio Walter da Silveira de melhor vídeo coube a Batatinha e o Samba Oculto da Bahia, documentário de Pedro Abib. Os maiores aplausos da noite foram dirigidos a Abid, que é professor da Universidade Federal da Bahia e músico apaixonado por seu personagem, o sambista Oscar da Penha (1924-1997), vulgo Batatinha.   Negro pobre da cidade de Salvador, pai de quase uma dúzia de filhos, Oscar da Penha teve em Maria Bethânia e Paulinho da Viola seus grandes divulgadores. Num dos momentos mais emocionantes do filme, Batatinha aparece, ao lado de Riachão e Ederaldo Gentil, no programa Samba da Bahia, gravado em 1974, pela TV Cultura.   O público, emocionado, cantou junto. E vibrou com imagens do compositor retiradas do documentário Bahia de Todos os Sambas, de Saraceni & Hirszman, e de filmes de Nelson Pereira dos Santos, outro dos fãs do artista. Nelson e o fotógrafo-cineasta Thomaz Farkas são devotos do sambista, morto há dez anos. Em documentário de Walter Lima Jr, Farkas confessou: "Se eu pudesse nascer de novo, queria ser Batatinha". A Espanha, país homenageado pelo festival baiano, dividiu com o Brasil os principais prêmios. Além do cobiçado Prêmio Glauber Rocha, os espanhóis conquistaram o Tatu de Ouro de melhor filme de animação (com El Viaje de Said, de Coke Rioboo), melhor trilha sonora, para Jazz Song (de autoria de Miguel Pena, interpretada por Jazz Libitum), e Tatu de Ouro de melhor vídeo ficcional, com Consciências, de Diego Costillo.   O Peru conquistou o Tatu de Ouro de melhor documentário, com Alguma Tristeza, de Juan Ramirez, e Prêmio Especial do Júri com o documentário Tambogrande: Mangas, Morte e Mineradora, registro engajado da luta dos moradores tambograndenses (que vivem do cultivo de mangas e outros frutos) contra a instalação de gigantesca mina canadense (de prospecção de ouro) em suas terras.   Entre os brasileiros, os premiados foram a ficção pernambucana Uma Vida e Outra, de Daniel Aragão (Prêmio Banco do Nordeste e melhor atriz, para Sarah Jorge) o gaúcho A Peste da Janice (melhor direção, para Rafael de Figueiredo). O Tatu de Prata de melhor ator coube a Jorge Loredo, o Zé Bonitinho, por Quando o Tempo Cair, curta de Selton Mello. O melhor roteiro rendeu o Tatu de Prata para José Mouzinho, com sua afetiva história de um gato que perambula pela Freguesia do Ó, no divertido Sete Vidas. Ao ótimo documentário de Patrícia Moran, A Plenos Pulmões (sobre o Minhocão paulistano) restou apenas o Tatu de Prata de melhor som.   Concorrência   Como havia 50 filmes na competição, muitos deles oriundos da Espanha e da América Hispânica, os brasileiros enfrentaram concorrência dura. Tiveram melhor sorte na categoria vídeo, em que eram maioria. Além do Prêmio máximo para Batatinha, coube a Helena Zero, de Joel Pizzini, o Tatu de Ouro de melhor vídeo experimental, e ao pernambucano O Jumento Santo e a Cidade Que Se Acabou Antes de Começar, o Prêmio Especial do Júri.   O Prêmio Quanta foi atribuído ao documentário paulistano Kibakusha - Herdeiros Atômicos no Brasil, de Maurício Kinoshita. O filme registra a presença, em nosso País, de sobreviventes das bombas atômicas lançadas, pelos EUA, sobre Hiroshima e Nagasaki, no final da Segunda Guerra Mundial. O pesadelo vivido há mais de 60 anos é rememorado, mas, mesmo se expressando em japonês, os sobreviventes definem o Brasil como um lugar maravilhoso, que escolheram como morada definitiva.   A carioca Thereza Jessouroum ganhou o Troféu Jangada, do Ofício Católico Internacional de Cinema (Ocic), com Clarita, delicado olhar sobre o Mal de Alzheimer. Filmes que causaram sensação em festivais recentes, como os provocadores Alphaville 2007 d.C, do paulistano Paulinho Caruso (vencedor de Gramado) e Capistrano a Quilo, do cearense Firmino Holanda (premiado no Festival É Tudo Verdade), não foram lembrados pelo júri da Jornada, que contou com a atriz portuguesa Inês de Medeiros, com o peruano (radicado na Espanha) Javier Corcuera, e com os brasileiros Rudá de Andrade, Eric Nepomuceno e Bráulio Tavares.

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