EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

Índia

Em dezembro, eu vou para a Índia. Dia trinta de novembro eu me vou e só volto em janeiro. Já tenho tudo programado, tomei todas as vacinas, comprei todos os guias possíveis, estou psicologicamente pronto, mas sempre que alguém descobre da minha viagem me diz: tem certeza? É pra lá que você quer mesmo ir? Eu digo que já pesquisei, que sei que é uma pobreza horrível, mas não adianta, o que eu sempre ouço é: mas você não sabe o que é a Índia de verdade. Eu sei que a pobreza é impactante, que é um tipo de miséria que não estamos acostumados, mas mesmo assim, quem já foi me diz: é muito pior do que você imagina. As pessoas tendem a me desconvencer de ir. A maioria (que nunca esteve na Índia) diz que é um lugar apavorante. Quem já foi se divide. Tem gente que ama e tem gente que preferiu antecipar a volta. O que me deixa tranquilo é perceber que ninguém volta impune. Amando ou odiando, todos voltam de lá com uma opinião bastante firme. Tudo isso só me dá mais vontade de ir. É o tipo de viagem que não te deixa indiferente e isso é sensacional. A comida, a bebida, as cores, o cheiro, a cultura... Tudo é completamente diferente do Brasil. Eu posso imaginar que a pobreza seja inacreditável, mas algo me diz que todo o resto compensa. E essa pobreza também faz parte do que é e sempre foi a Índia. Não digo isso para me conformar com a pobreza alheia e nem querendo dizer que ver pobre é uma atração turística, o que eu quero dizer é que a Índia só é a Índia por causa de todo o conjunto, o pacote completo é que faz da Índia a Índia. Uma vez, no Egito, eu pedi uma pasta de homus num restaurante bem chulé no meio do mercado. O garçom com um avental bem surrado me trouxe um prato com homus e seu dedo gordo estava mergulhado lá. Comi a pasta, que estava ótima aliás e fiquei um pouco preocupado com o que aquilo poderia acarretar. Conversando sobre isso com o mestre Arthur Veríssimo ele me disse uma coisa que eu levei pra vida. Sabe por que aquele dedo no homus não te fez mal? Porque aquele dedo é homus também. Aquele garçom é homus. E é verdade, tudo o que está dentro do Egito é Egito. É por isso que eu gosto tanto de viajar pra outros países, porque você se dá conta que o Brasil, enorme do jeito que ele é, é pequenininho na verdade. E que você é menor ainda. E que cada canto tem uma particularidade que vai te modificar de alguma forma. Quando você volta de uma viagem, você volta também meio homus.

PUBLICIDADE

Por Fábio Porchat
Atualização:

Ps: Eu lancei um programa novo na internet falando só sobre viagens. PORTA AFORA. Coloca lá no Youtube que você vai gostar!

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.